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Paulo Martins de Lima

1943 - 2020

Boêmio da zona sul do Rio, demonstrava seu amor fazendo visitas inesperadas, ligações ou envios de SMS.

Numa casa do Jokey Club, hoje demolida, nasceu Paulinho ou P.Lima, versões pelo qual atendia o hipólogo. Popular no bairro da Gávea e querido por todos, possuía duas manias: o Vasco e o turfe, além do hábito de caminhar no tempo livre.

Sob este mesmo teto, passaram a infância ele e o irmão Léo, jogando bola e futebol de botão. “Um amava muito o outro. Sempre foi assim”, conta o filho André, que aos treze anos testemunhou a grandeza do amor entre os dois. Na partida do tio para São Paulo, o garoto fez coro ao choro doido da despedida.

Do único casamento nasceram André e Danielly. E os laços de amizade com Marli foram mantidos após o divórcio. Pois Paulinho era um amigo, pai, irmão, tio que sabia amar. E será lembrado de maneira verdadeira entre seus afetos nos sambas do xará Paulinho da Viola: “E a vida continua, esse é um dito que todo mundo proclama; o consolo dos aflitos e a desilusão de quem ama”.

Para André, o pai ouviu o chamado do seu avô e obedeceu. “Até um dia, meu velho amado”, despede-se.

História escrita por Mariana Quartucci a partir do testemunho enviado pelo filho de Paulo, André.

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"'Paulinhooo, vem almoçar!': cresci ouvindo esse chamado forte da minha avó todos os dias para que meu pai fosse à mesa. Creio que meu pai também, e desde que era pequeno e nem sabia falar direito", conta ainda o filho André.

A mãe de Paulinho sempre dizia que ele era muito levado. Dizia que meu pai era divertido. Brincalhão. Um doce “sacaninha”, como ela costumava chamar carinhosamente, todos os filhos e netos. Ela tinha um ciúme danado de Paulo, o caçula; e de Leo, irmão dele, apenas um ano mais velho.

Os dois eram unha, carne e xodó dela. Jogaram muita bola e botão juntos. Um amava muito o outro. Sempre foi assim. Para se ter uma ideia desse amor, Paulo, em 1982, teve que morar em São Paulo para trabalhar e a despedida foi emocionada.

"Lembro bem o momento em que ele se despediu de mim e do meu tio. Os dois se abraçaram e titio chorou copiosamente, e eu com os dois. Mas eles nunca mais sentirão saudades um do outro. Vovó gritou forte: 'Paulinhooo, vem pro céu!'. E, às 21h55 do dia 7 de maio, ele foi abraçar e beijar vovó e o Tio Leo. Até um dia, meu velho amado", diz André.

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Um vascaíno que amava pintar, se fosse chamado de “coração de mãe” lhe cairia muito bem, já que no seu coração sempre tinha espaço pra mais um, pra muitos. Homem de muitos amores, amor pela mulher, pelos filhos, pelos irmãos, pelos netos, sobrinhos e amigos.

Irmão da Mônica, que era a pessoa qual ele recorria para conversar, pai do André, que é jornalista, e da Danielly, que trabalha resgatando animais abandonados. Avô do Victor, do Joaquim e também dos cachorros da Dani que conta que, quando ele ia visitá-la, levava um petisco e remédio contra os mosquitos para os netos dogs. Seria o futuro padrinho do pequeno Paulo Vítor que era o seu xodozinho, filho da Ana Paula, sua sobrinha.

Cultuava os seus antepassados através das missas e também cuidando dos jazigos que ele e sua família têm em São João Batista. Amava fazer churrasco e era fã do Paulinho da Viola, adorava caminhar e dar uma volta completa na Lagoa.

Ele era presente, no sentido literal da palavra. Pessoa querida e divertida, que transmitia muita plenitude, proprietário dos melhores carinhos e das risadas mais gostosas de ver e ouvir, era todo composto de boas energias. Amava distribuir flores, principalmente nas missas.

Amava cavalos e os animais. Uma figura extremamente importante no mundo do turfe, onde era o responsável pelos pedigrees. Inclusive foi no Jockey que construiu uma linda e sólida amizade com o João Guedes, seu melhor amigo e veterinário de lá. Por falar em amizade verdadeira, tinha outro grande amigo, o Dr Lafayette Stockler, médico aposentado do Hospital Municipal Miguel Couto no Leblon.

Não hesitava em ajudar o próximo, nos momentos mais difíceis a sua presença era certa. Ajudava os amigos e os amigos dos amigos também, o que fazia com que aumentasse ainda mais a admiração de todos por ele. Tinha um sentimento nobre, “Ele honrou o amor que a vovó deu pra ele.” Conta Marcia, sua sobrinha, que acrescenta: “Obrigada por cada momento, por cada flor, por cada gesto de carinho e preocupação. Já sinto a tua falta. Fica aqui a minha gratidão de ter sido a tua sobrinha. Descansa em paz, meu tio! Te amamos eternamente.”

“Eu agradeço muito por eu ter tido a linda oportunidade de viver meus 24 anos na sua presença, um tio que sempre permanecerá em meu coração. Um bom amigo, um grande protetor. O melhor padrinho que meu filho poderia ter, não tenho dúvidas. A saudade irá bater mas sempre lembrarei de você com um enorme sorriso, porque foi isso que você sempre nos proporcionou a felicidade. Suas visitas inesperadas irão fazer muita falta! Todos nós que sempre te amamos, já sentimos uma saudade imensa. Meu tio, meu amigo, meu compadre. Nós te amamos eternamente.” Ressalta Ana Paula, sua sobrinha, que acrescenta o trecho de uma música:

"Por isso, eu prefiro sorrisos e os presentes que a vida trouxe pra perto de mim. Não é sobre tudo que o dinheiro é capaz de comprar e sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar."

O que nos mantém vivos são as boas lembranças dos abraços aconchegantes, de todo amor emanado, das tantas flores entregues com tanto apreço e com o cheiro da saudade, a essência de tua alma há de exalar onde estiver. Ser humano muito especial será para sempre lembrado pelas suas poucas palavras e grandes atitudes.

Paulo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Volta Redonda (RJ), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado de Paulo, pelo filho André Felipe Martins de Lima e pela sobrinha Marcia e Ana Paula. Este tributo foi apurado por , editado por Raiane Cardoso, escrito por Mariana Quartucci, revisado por Lígia Franzin e Bianca Ramos e moderado por Bianca Ramos em 9 de julho de 2020.