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Paulo Roberto Binatti

1959 - 2020

O avô que servia de modelo para os penteados e maquiagens durante as sessões de brincadeiras com os netos.

Paulo Roberto foi comerciante e contador de histórias. Além do trabalho, gostava muito da sua família, cultivou memórias especiais com cada pessoa.

Levava a fama de ser namorador e chegou a se casar três vezes. No último matrimônio, na união com Joceli, encontrou sua parceira de vida; é o que conta a filha Izabela. Foi também nesse período que Paulo Roberto descobriu sua fé em Jesus e, enfim, teve paz.

Nada o impedia de ajudar ao próximo e tinha por missão distribuir alimentos para pessoas em situação de rua. Todos os domingos levavam café da manhã para eles. Além da igreja, ele e a esposa Joceli ajudavam três famílias com cestas básicas. No Natal faziam duas ceias, uma para a família e a outra com os mesmos itens para as pessoas carentes, ocasião em que eles aproveitavam para falar de Jesus.

Como pai, Paulo Roberto marcou a vida de Izabela com várias memórias, sendo uma delas em uma ocasião muito especial. No dia do casamento da filha, ele previu que não aguentaria tanta emoção. Com os olhos atentos a cada passo de sua menina, esperou a filha descer as escadas e, quando a encontrou, colocou a mão em seu rosto, disse: "você está linda!". Logo em seguida revelou, "eu já tomei um Rivotril, porque sabia que eu não ia aguentar", relembra Izabela. Tamanha era a alegria, que o nervosismo atravessou filha e pai, ela chegou a travar o maxilar com o sorriso, enquanto era guiada até o altar. Todos estavam muito felizes e realizados.

Paulo Roberto também foi pai de Paula, Paulo, Lucas e teve um enteado chamado Caio. Foi avô de Marcos Paulo, Alice e Enzo. Sua generosidade se estendia para as relações com os netos. Ele os deixava fazer tudo, brincar com coisas como colocar "xuxinha" no cabelo e fazer maquiagem. Com seu jeito engraçado, o vovô "brincava com os netos de tal maneira, que se alguém mexesse o Nescau para a direita, virava Nescau e, para a esquerda, virava leite de volta".

Das lembranças da família, Izabela se recorda de uma das vezes em que estiveram na praia. Paulo Roberto viu a esposa levar um "caixote" no mar, entretanto ao invés de salvá-la, optou por resgatar o baldinho de brinquedo da filha. "Ele dizia que tinha escutado ela gritar 'se salva' ao invés de 'me salva', relata rindo das histórias do pai.

Também conta da mania que o pai tinha de beliscar a comida antes que estivesse pronta, sempre justificando que era melhor comer cru do que comer cozido. Entre os pratos favoritos dele estava o frango assado com farofa e arroz de forno.

E por falar em comer, nas tardes de sábado, após o expediente do comércio, a família se reunia para confraternizar com um café da tarde. Izabela saía da loja e já passava na padaria para pegar o bolo que o pai gostava de comer. A lembrança dessa convivência familiar ainda permanece viva na memória, assim como a mensagem de esperança que Paulo Roberto sempre repetia dizendo: "confie e peça para Deus, coloque para ele seu problema, que tudo vai dar certo, não tem tribulação que não passe quando a gente está com Ele".

A paz encontrada por Paulo Roberto transcendia suas relações. Em seus últimos anos de vida, viveu tempos bons, com muita intensidade ao lado da sua amada companheira Joceli, dos filhos e netos. Partiu deixando sua fé tatuada na pele de Izabela e o alento da frase de sua canção favorita, de Samuel Messias: "O choro dura uma noite, mas a alegria vem pela manhã".

Paulo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Paulo, Izabela Canuto Binatti. Este tributo foi apurado por Rosimeire Seixas, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2022.