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Paulo Roberto Caetano

1949 - 2020

Escolheu a vida de viajante em nome do amor.

Paulão era um homem de porte grande, e de coração ainda maior. As pessoas enxergavam nele uma criança alegre, um marido exemplar, um amigo fiel, um conselheiro e excelente pai.

Era ele quem se lembrava dos aniversários, o primeiro a dar os parabéns até para os vizinhos. Amava assistir televisão, talvez enxergasse em todos aqueles amores de fantasia um pouco da paixão infinita que sentia pela esposa. Foi amor à primeira vista, e podemos dizer que nem a melhor das novelas ou filmes de romance teve uma história tão bela. Zilda trabalhava no parquinho de diversões do pai, era uma vida difícil e humilde.

Estava sempre viajando, fazia as locuções do estúdio de música. Quis o destino que o parquinho visitasse o Rio de Janeiro. Mais do que isso! Que o Paulão fosse até lá e pedisse a canção “Não Quero Ver Você Triste”, do Roberto Carlos. A arte do amor é fazer das pessoas comuns, verdadeiros heróis. Paulão tomou coragem e convidou Zilda para se encontrar com ele naquela noite. Eles conversaram muito e sem perceber, como num encanto mágico, começaram a namorar.

E como a melhor das histórias de amor, o relacionamento não foi construído a base de flores. Teve luta, garra, suor e lágrimas, como uma verdadeira obra de Shakespeare. O preconceito com aquele modo de vida: viver viajando e sem endereço fixo, fizeram algumas pessoas da família dele votarem contra Zilda. Mas quem pode com o amor verdadeiro?

Ele largou o emprego em Caxias e se lançou. Aceitou as condições da vida de viajante e foi trabalhar no parque. Acabaram se casando na igreja, ela de noiva, ele de terno. Além do amor, havia respeito e cuidado. Zilda foi o suporte de Paulão quando ele foi diagnosticado com diabetes. Assim como ele, que abriu mão da vida tranquila que tinha para ficar com ela, Zilda também o fez para cuidar dele. E dos filhos, que começaram a nascer naquela manjedoura de amor e paz. Primeiro veio a Juliana, depois o Paulinho. Cresceram testemunhando e levando para suas vidas aquele exemplo de amor, respeito, luz e cuidado. Essa bênção ninguém pode tirar deles, nem mesmo a morte. E para coroar essa vida de felicidade e leveza, porque a vida era assim para ele, vieram os netos Isaac, Davi Luca e Arthur Miguel.

O amor de Paulão excedia as fronteiras da família. Ele era muito generoso e ajudava quem precisasse; seja oferecendo seu sorriso largo para quem estava triste, ouvidos para quem precisava falar, uma palavra para quem estava sedento por bons conselhos, ou distribuindo tickets para que pessoas em situação de vulnerabilidade pudessem pegar leite e pão na padaria toda semana.

Se existe um lugar melhor do que esse mundo, certamente Paulão está lá. Olhando por todos nós com seu sorriso largo e seu coração de amor. Assim, deixa as pessoas da Terra um pouco mais seguras com isso. E Deus também!

Paulo nasceu em Santo Antônio de Pádua (RJ) e faleceu em Serra (ES), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Paulo, Juliana de Oliveira Caetano Alves de Oliveira. Este tributo foi apurado por Rafaela Teodoro Alves, editado por Ricardo Valverde, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2021.