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Pedro Pinto

1936 - 2020

Todo ano, no aniversário de casamento, presenteava a esposa com um buquê de violetas.

Adorava qualquer oportunidade em que pudesse tocar sanfona, gaita, piano... aprendeu tudo “de ouvido", já que nunca fez aula de música.

Era ótimo marceneiro, apesar de sua profissão ser comerciário. Fez casinha de bonecas para as filhas, casa na árvore para os netos, mil e um brinquedos em madeira. Cansou de colocar as crianças na cama contando histórias.

Era romântico, lembrava sempre de sua eterna namorada com buquês de violeta no aniversário de casamento. Não se dava bem com os celulares, porque afirmava ter "os dedos gordos".

Era um parceirão dos oito netos. Com eles, jogava “mico” e inventava passeios pela cidade: museus, zoológicos, exposições, parques... Na Páscoa, confeccionava com capricho o Judas, para então o malhar, e esse era o ponto alto da comemoração, a alegria da criançada.

Adorava ir para a praia. Comprava cocos e os colocava no coqueiro só para enganar a todos. Mesmo com dificuldade (usava bengala) não parava em casa, estava sempre inventando. Por não parar quieto, vivia se machucando, e em cada ferida não economizava no mercúrio-cromo (usava aos montes).

Quando as coisas não eram seu agrado bufava, e essa era a sua marca registrada, assim como as tossidinhas que dava na janela de manhã, para avisar que estava acordado.

Ele afirmava alegremente ser um "lírio de São José".

Pedro nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Ticiana Werneck, a partir do testemunho enviado por filha Dulce Maria Pinto Matias, em 21 de julho de 2020.