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Rafael Nunes Cardozo

1961 - 2020

De abraço acolhedor e sorriso tímido, sua Kombi levou diversas gestantes ao hospital e acudiu muitos vizinhos.

Rafael veio ainda na juventude para o Rio de Janeiro, buscando melhores condições de vida. Lá fincou raízes até o seu último dia de vida, mas constantemente dizia que gostaria de voltar de vez para sua “terra". O coração arretado sentia saudade da Paraíba.

Na capital fluminense, trabalhou duro a vida inteira. Entre as várias profissões, atuou como servente, faxineiro, vigia, pedreiro, vendedor de coco, de camarão, zelador e, por muitos anos, foi dono do próprio bar. "Nunca recusou trabalho." E também atuou fazendo fretes com sua Kombi branca, atividade que exerceu até poucos dias antes de partir.

E Rafael sabia ser solidário. "Quantas foram as vezes, no meio da madrugada, que ele saiu para socorrer algum vizinho ou levar gestantes em trabalho de parto para o hospital?", se pergunta a filha Rafaela. Todos sabiam que podiam contar com ele.

Em seus dias de folga, o passatempo favorito era fazer churrasco na laje, "ouvir um brega ou forró, beber uma cerveja gelada e reunir a família e amigos".

Rafael teve muitas conquistas ao longo da sua vida, mas a maior delas foi ser pai de seis filhos — Rosângela, Marcelo, Luciana, João, Rafaela e Luã —, avô de seis netos e bisavô de uma bisnetinha. No seu coração enorme, também teve espaço para três filhos peludinhos: Pepeu, Pituxinha e Lupita.

O abraço acolhedor, o sorriso tímido e sincero, a impaciência e o jeito brincalhão eram as suas marcas. Rafael deixará saudades.

Rafael nasceu em Sapé (PB) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Rafael, Rafaela dos Santos Cardozo. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Júlia de Lima, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2020.