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Raimunda da Silva Frade

1942 - 2020

Mulher de muita fibra; ser resiliente já era natural do seu sangue cabano.

Paraense de corpo e alma, Dona Raimunda tinha muito orgulho de ter nascido na terra da cabanagem. Nunca saiu de Belém e nem do seu bairro da Sacramenta. Dizia sempre, com muito carinho: "Jamais vou sair daqui, nem morta! Amo meu Pará!"

Ela era mulher firme, que não se abalava diante das adversidades sociais e econômicas. Dona de um humor sarcástico, desafiava as regras da sociedade normativa e quadrada, como ninguém. Tinha um poder imenso de se reinventar e driblar os momentos tristes. Talvez, porque soubesse, que não adiantava esmorecer diante das incertezas, das contradições e da falta de justiça social, tão presentes na vida de quem não nasceu em berço de ouro.

Superou grandes dificuldades do casamento. Criou quatro filhos e viu crescer os 16 netos e os nove bisnetos. Muito bem resolvida com a vida, seu mantra era: "Todos irão morrer. Eu não tenho medo da morte, mas se me perguntarem: ‘Dona Raimunda, a senhora quer morrer?’, eu logo digo que não".

Raimunda lutou por muitos anos contra inúmeras doenças crônicas, mas a última batalha de uma vida que foi sinônimo de resistência, do início ao fim, foi esta.

Alguns dias depois de sua partida, seu primogênito também se despediu desse mundo e foi fazer companhia para a mãe entre as estrelas. A filha Denilza e os irmãos guardam com carinho as memórias dos dois: “Ficou a lembrança e a saudade da nossa mãe e do nosso irmão”. Ela ainda faz um apelo: “Fiquem em casa, por favor!”

Raimunda nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Raimunda, Denilza da Silva Frade. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Maria Alice Freire, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2020.