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Raimunda Souza Santos Inocencio

1972 - 2020

Os saborosos pratos que preparava eram uma extensão do amor e do cuidado que ela colocava em tudo que fazia.

Reunir a família e amigos em volta de uma mesa farta era uma das especialidades de Raimunda, a querida Preta. Seus dotes culinários que divinamente conquistaram os mais diferentes paladares, são lembrados por todos como uma das maiores referências ao falar dela.

Sua culinária atravessou vários momentos marcantes entre aqueles que ela amava, como no caso da irmã Simone que recorda com carinho as primeiras habilidades na cozinha que aprendeu devido à instrução de Preta. O cardápio do casamento de Simone também foi todo preparado pela irmã, regado de amor, carinho e dedicação.

Caprichosa também com a casa, gostava de manter tudo muito bem limpo e proporcionar bem-estar para os filhos Igor e Thaís. Era daquelas mães que doava tudo de si para dar o melhor para eles, o que não passou despercebido quando os papéis se inverteram e ela precisou ser cuidada. Raimunda atravessou uma longa e difícil jornada provocada por uma série de AVCs que a tornou dependente de seu filho durante nove anos. Persistiu toda essa fase até se deparar com a Covid-19, resistindo por tanto tempo graças à dedicação e cuidado tanto de Igor como da família unida a que ela pertenceu. “Sinto muita falta da minha mãe, pois mesmo quando estava doente sempre foi minha inspiração para ser alguém melhor. Ela cuidou de mim com todo amor e, eu como filho, para poder retribuir tudo o que ela fez comigo, sempre estive ao lado dela cuidando e dando todo amor do mundo”, recorda Igor com carinho.

“Não ter o ruído do seu sorriso” é um trecho da canção 'Não Ter' do duo que Raimunda era incondicionalmente fã, Sandy e Junior. Essa passagem de uma das tantas músicas da dupla que ela cantava com toda emoção, hoje remete à lembrança da felicidade que Preta transmitia através de sua risada demorada. Foi uma mulher muito divertida, festiva e dançante. Era ela quem animava o ambiente, sempre com muita música, casa cheia e conversas soltas. A irmã Telma lembra com carinho a disposição que ela possuía em decorar as festas de aniversário dos seus filhos pequenos; Preta fazia questão de chegar cedo à casa da irmã e preparar tudo.

A ligação com a família era tão forte que Marcelo, também irmão de Preta, recorda emocionado que a oportunidade de ver a irmã pela última vez surgiu através do trabalho que realiza como motorista de aplicativo, que nesse dia direcionou suas corridas até a casa dela. “Era Deus me encaminhando para meu último momento com ela”, reconhece Marcelo.

Todos que a conheceram descrevem-na primariamente como uma mulher guerreira e batalhadora, que sempre trabalhou muito em prol da sua família. Mas conciliava também essa valentia com um jeito de ser acolhedor e amoroso, além de ser dona de uma sensibilidade que a fazia chorar de emoção em momentos memoráveis, como aconteceu no casamento de seu irmão, onde “ela chorou igual criança de felicidade”, descreve o filho.

Preta estava certa quando cantou tantas vezes: “o que é imortal, não morre no final”.

Raimunda nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 48 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos irmãos e filho de Raimunda, Marcelo, Simone, Telma e Igor. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de janeiro de 2021.