Sobre o Inumeráveis

Raimundo de Araújo Martins

1945 - 2020

Uma missão cumprida com alegria, bondade e muito amor à família e ao próximo.

Seu Raimundo, o Bábi, como era chamado pela família, nasceu pra se doar. Era uma pessoa doce, tinha o maior prazer em servir, fazer as pessoas sorrirem e sentirem-se à vontade em sua casa. O filho Fábio nos apresentou o pai como “uma pessoa como ninguém, que sempre se dedicou à família, seu bem maior, e aos outros”.

Bábi formou-se em Sociologia e trabalhou na área de saúde por muitos anos em um abrigo para hansenianos. Tornou-se membro da Igreja Messiânica, seguindo seus preceitos de altruísmo e espiritualismo na busca de um mundo melhor, mas nunca abandonou sua devoção por Nossa Senhora de Nazaré. Juntamente com sua esposa, Dona Odinéia, sua querida "mamãe Néia", como ele a chamava carinhosamente, todos os anos acompanhava a passagem da padroeira dos paraenses no Círio de Nazaré. Era muito emotivo, se emocionava fácil com qualquer gesto de carinho de sua família. Quando viam, já estava quase chorando.

Era extremamente ativo em seu dia a dia, principalmente todas as manhãs, quando saía de casa para ir ao mercado e à feira comprar o almoço do dia. Seu meio de transporte não poderia ser outro senão sua inseparável bicicleta amarela com o bagageiro improvisado, com a qual, por sinal, já era conhecido de longe por todos. Fazia questão de preparar a comida. De espírito inquieto, este paraense adorava reunir a família para o churrasco de domingo, com todos em volta da mesa e regado às músicas que ele gostava, sempre acompanhado de sua tradicional caipirinha, por ele mesmo preparada e o tradicional açaí. E ainda saía com o prato na mão servindo o "tira-gosto" até a boca de cada um ali presente, para que provassem o que ele havia feito.

Era seu jeito de mostrar generosidade e carinho. Sua maior alegria era promover esses momentos de união em família. Depois que a neta Bia nasceu, então, ele ficou ainda mais emotivo. Nenhuma data passava sem festa: aniversários, finais de ano, festas juninas com sua netinha, com quem dividiu seu sorriso nos últimos anos. E, claro, o tradicional almoço do Círio: tudo era motivo para oferecer os seus melhores dotes culinários para sua família. O que ele queria mesmo era estar rodeado de todos que amava. A nora Ericka contou que quando o viu pela primeira vez, ele já disse: “Faça da minha casa a extensão da sua”. As visitas também se sentiam tratadas como da família, mesmo que não fossem seus convidados e pouco se conhecessem. Como ele disse certa vez: “Se é amigo dos meus filhos, também é meu amigo”, contou seu filho Marcus.

Mas tinha um detalhe, gostava de planejar tudo do jeito dele e dar o roteiro pra todos, lembrou o filho Fábio: “Quando conversávamos sobre algum assunto, gostava de dizer o que deveríamos ter dito. Na verdade, ele gostava de nos orientar a falar com as mesmas palavras que ele usava, o que era amável e engraçado ao mesmo tempo”. Esse jeito de tomar conta de tudo era na verdade um retrato de alguém que estava sempre muito preocupado com sua família, que gostava de saber que estavam todos amparados e bem, por isso sempre reunia a família em torno da mesa, confraternizando e até inventando momentos para reuni-los. Só havia uma pessoa em quem o Bábi não mandava: a neta Bia. Pela Bia ele fazia de tudo, ela dava as ordens! Por ela, ele dançava, meio desengonçado, fazia todas as vontades e era incansavelmente feliz.

Raimundo se foi deixando esposa, três filhos, sua netinha Bia, noras e genro. Sua partida deixou uma eterna saudade e um imenso vazio, mas que não serão motivos de tristeza, pois sempre serão preenchidos por sua família com tudo o que ele mais amava fazer em vida, levando em frente o seu legado. Para a família fica a eterna gratidão pelo esposo, pai, avô e sogro que foi, e por tudo que fez por toda sua família. “Sua missão foi lindamente cumprida”, concluiu sua filha Andreza.

Raimundo nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Raimundo, Fábio Luiz da Costa Martins. Este tributo foi apurado por Marcelo Dettogni, editado por Sandra Maia, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.