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Raimundo Fernandes Campos

1931 - 2020

Amoroso e nostálgico, o Seu Campos recebia todos com um “Eu estava com uma saudade 'Monstra' de você!”

O potiguar não gostava de se chamar Raimundo. Mas isso nunca foi um problema. Quando começou a se entender por gente, adotou o "Campos" como nome. E, foi assim que o comerciante ficou conhecido pelos vários estados do Brasil onde viveu com toda a sua família.

Com Dona Francisca, sua companheira de vida, resgatou o “erre” do nome original para batizar os seis filhos: Rilder, Rilton, Rilma, Rilson, Ronald e Rilvana. E nada no mundo era mais precioso para o Seu Campos do que os seus.

No sábado, acordava ansioso. Era o seu dia favorito. Seu Campos aguardava a semana inteira para o tradicional encontro de família. Recebia os filhos, as noras, os netos, os sobrinhos, sem contar os agregados. Aliás, agregar era o seu verbo. Em sua casa, todos eram sempre bem-vindos.

O humor e a alegria desse maravilhoso patriarca estão entre as características dele, que deixaram saudade. Seu Campos adorava contar as suas histórias e os seus causos. Como não se divertir quando descrevia as aventuras que (supostamente) viveu quando morou lá no Alasca, com todos os detalhes, para convencer seu ouvinte. Fazia outra graça, que sua neta nunca esquecerá: "Quando estávamos juntos, meu avô dizia baixinho, arrancando risos: só têm duas pessoas bonitas no mundo, eu e você, mas sou eu o mais bonito", lembra, com muito carinho, Renata Campos.

Este brasileiro, desapegado das coisas materiais, foi exemplo também pela sua integridade e honestidade.

O amado marido, pai, avô e amigo gostava de ouvir "A Vida do Viajante", de Luiz Gonzaga. E agora, a canção embala algumas das muitas memórias incríveis que criaram juntos: "Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz...", cantava.

Chegou a hora da sua passagem, do seu descanso, Seu Campos. Na lembrança, um homem gentil, de cabeleira branca, que não abandonava seus suspensórios e sua boina. E a certeza, nesta hora, que sua família e seus amigos nunca vão deixar de pensar e dizer: ah, que saudade "Monstra" sentimos do senhor também.

Raimundo nasceu em Ceará Mirim (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Raimundo, Renata Campos. Este texto foi apurado e escrito por Jaqueline Oliveira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.