1973 - 2020
Por trás do sorriso tímido, Guiu guardava um coração recheado de amor e bondade.
"Raimundinho, o nosso Guiu, era um ser do bem. Bom irmão, bom filho e amigo, nunca dizia não para quem precisava de sua mão amiga. Era só alegria; sorriso tímido, mas o mais lindo que conheci", conta a amiga Tricia.
Guiu começou a trabalhar muito cedo. Aos onze anos já ajudava nas despesas da casa; sua família era muito humilde. Concluiu o curso de torneiro mecânico, profissão da qual muito se orgulhava, pois era dela que tirava o sustento de si e da família.
Raimundo não foi apenas um filho. Era um grande amigo dos pais. Também não foi simplesmente um irmão, era como pai para suas irmãs. Com os amigos, valia a mesma lógica: era irmão.
Amava a vida e estar em companhia de seus queridos. A alegria se estampava em seu rosto quando estava rodeado por eles. Para Guiu, isso era a verdadeira felicidade, a maior riqueza que se poderia ter.
"Era meu amigo de infância, um verdadeiro irmão. Todos o adoravam. Ele sempre estava pronto para atender qualquer pedido que lhe fizessem", comenta a amiga Marciléa. "Era de um coração enorme, amigo sempre, em qualquer hora, para todos. Um anjo que Deus nos deu para aprendermos a ser melhores."
Tinha vontade de estudar Engenharia Mecânica. Fez cursinho, prestou vestibular, mas, infelizmente, não conseguiu a aprovação para a faculdade. Preferiu então seguir com a profissão que já exercia, deixando bons causos por onde passava.
"Lembro-me de um dia em que ele correu a rua inteira pelado, e seu pai atrás, com o cinturão na mão, porque estava se banhando no rio e seu pai havia dito para ele não ir. Quando se lembrava desse fato, Guiu ria, mas dessa vez não era um sorriso tímido, era um sorriso largo, uma gargalhada gostosa", conta sua amiga Tricia.
Trabalhou anos a fio para conquistar sua independência econômica; queria ser o dono de sua própria oficina. Infelizmente não foi possível concretizar esse sonho. "Ele foi embora tão abruptamente que não conseguimos sequer nos despedir.", lamenta Tricia. "Nem preciso dizer que ele deixou saudades e um vazio imenso dentro de nós. Minhas idas à casa da mamãe não são mais as mesmas, porque não te vejo mais me olhar através da grade e abrir aquele sorriso. Com certeza, deve estar sorrindo lá do alto ao me ver lembrar de quando correu pelado a rua dos Timbiras inteira. Saudades, meu amigo. Saudades, meu querido irmão. Sentimos muito tua falta!"
Raimundo nasceu em Igarapé-Miri (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas amigas de Raimundo, Tricia Luczynski e Marciléa Pascoa Viegas. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2020.