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Ramires Lima Lopes

1978 - 2021

Cumprimentava tantas pessoas quando saía a pé, que a esposa o chamava de "vereador"!

Ramires sempre foi muito paparicado pelos irmãos Rozinete, Roziane e Robson. Além de ser o caçula de quatro filhos, pelos problemas de saúde que enfrentou na infância, Dona Carmen, a mãe, e Dona Palmira, a avó, cercaram o menino de cuidados, lutando por sua vida e recuperação. Dos irmãos, ganhou o apelido de Dulei.

Aos 14 anos realizou sua primeira cirurgia cardíaca, devido a um problema no coração. Um amigo que foi visitá-lo no hospital estava na companhia de uma outra amiga, que até então Ramires não conhecia. Mesmo sem nunca terem se visto antes, essa amiga, Gizele, levou de presente um pingente de cristal em formato de coração, juntamente com o desejo de forças à ele e aos familiares.

Depois desse primeiro encontro, Gizele e Ramires, que moravam na mesma rua, viraram amigos e, com o tempo, começaram a namorar. O casal gostava muito de sair e passear. Ela conta que Dulei a ensinou a viver como se fosse o último dia. Era uma pessoa afoita, otimista e tinha muita fé na vida. Aproveitava tudo que a vida lhe dava, sem planejamentos, apenas curtindo o momento. Juntos, o casal viveu muitas experiências. Foram a shows, viajaram e conheceram muitos lugares. Ele tinha sede de vida. Compartilhavam o espírito aventureiro. Pegavam as mochilas, colocavam nas costas, iam até o ônibus e pronto. Não precisavam de muito para tornar uma viagem inesquecível.

Após a última cirurgia de Ramires, em 2006, decidiram planejar o casamento e a construção de uma família. O sonho de casar na igreja foi realizado em 16 de outubro de 2015. Poucos meses após o casamento, Gizele perdeu seu pai e com isso o casal passou por momentos muito difíceis. Foram morar na casa da mãe dela. As dificuldades fortaleceram ainda mais a união, deixando a certeza de que foram feitos um para o outro. Divergiam, apenas, na arrumação da casa. Ele herdou de Dona Carmen a mania de limpeza. Era muito organizado e prezava que seu cantinho estivesse continuamente impecável. Já ela era mais bagunceira e levava alguns “puxões de orelha” do esposo, incessantemente com bom humor.

Em 2016 começou a fazer Faculdade de Engenharia de Produção. O início foi uma grande conquista pois, devido aos seus problemas cardíacos, nunca tinha conseguido concluir os estudos. Infelizmente, não conseguiu se formar. Sua partida se deu antes da finalização e defesa do Trabalho de Conclusão de Curso.

Apesar de ser uma vontade de ambos, o casal não teve filhos. Pensavam em adotar, porém não chegaram a realizar este sonho. Em compensação, tiveram os sobrinhos como filhos, os quais cuidaram com muito amor e carinho. O sobrinho Giovani nasceu quando o casal namorava há pouco mais de três anos, então cresceu ao lado de ambos. Ramires deu à ele cuidados, carinho, convivência e aprendizados. Tinham uma relação muito forte. O sobrinho Heitor também expressa a todo momento a falta que sente do tio.

Com seu jeito alegre, divertido e sorridente. Ele era muito popular e tinha muitos amigos. Por eles, era conhecido como Magrão. Cada passeio a pé levava o dobro do tempo para ser completado, de tantas pessoas que cumprimentava pelo caminho. Gizele conta, ainda, que sua irmã casou com o melhor amigo de infância de Ramires, e, com isso, os dois casais viraram um quarteto inseparável.

Seu churrasco era especial. Assistia a muitos programas sobre a arte do churrasco e gostava de experimentar novos cortes e temperos. Aos domingos, pilotar a churrasqueira era sua responsabilidade. Após seu falecimento, este dia da semana nunca mais foi o mesmo para a família.

Pelas limitações cardíacas, não pôde realizar seu sonho de ser jogador de futebol, contudo fez questão de participar de alguma forma do esporte que tanto gostava. Passou a administrar e participar da gerência de um time de futebol de sua cidade, fazendo diversas atividades, tais como a confecção das camisetas.

Ramires torcia para o Paysandu, Time de sua região. Além disso, era são paulino e flamenguista. Já sua esposa Gizele era palmeirense, ou seja, de forma brincalhona viviam as rinhas entre os times.

Amante de música, seu lado pagodeiro era muito aflorado. Gostava de curtir seus ritmos favoritos acompanhado de uma cerveja. A esposa conta que onde tinha festa e música, eles estavam. Aprendeu com ela a gostar de Rock e Reggae. Um dos sonhos realizados do casal foi assistir ao vivo a um Show do U2. Levaram o sobrinho Giovani e criaram com ele, na ocasião, mais um momento inesquecível.

Na mesma viagem que fizeram para o Show do U2, Ramires presenteou sua esposa e o sobrinho com a ida ao jogo do Palmeiras, o que, segundo Gizele, apenas um são paulino com o coração enorme como o de Ramires faria.

Ramires nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Ramires, Gizele Adriana Borges Barros Lopes. Este tributo foi apurado por Peter de Souza, editado por Marília Ohlson, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2022.