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Ramon Souza Silva

1988 - 2020

Um homem que não desistia fácil. De uma simplicidade ímpar, era agradecido e buscava fazer mais por todos.

Honrado, responsável e trabalhador, Ramon era daquelas pessoas de opinião, que gostavam de fazer as coisas certas e de ajudar. Bastante prestativo, dava o seu melhor no trabalho como cobrador de ônibus em Barueri, na Grande São Paulo, sempre buscava fazer mais para poder ajudar a família.

Assuntos ligados a tecnologia eram seus prediletos, sem dúvida. Fez faculdade de Tecnologia da Informação e gostava de consertar computadores e, mesmo não sabendo, "fuçava, fuçava... até que arrumava", conta a esposa Valeria.

Era um homem que não desistia fácil das coisas, seu hobby eram os jogos online. Ficava horas jogando e vendo vídeos na internet.

Ramon não era muito dado a cozinhar, mas fazia um macarrão ao molho muito gostoso. As sessões de "cine pipoca" com a esposa também eram um dos passatempos favoritos dele.

Foram quase cinco anos de casamento e, ao lado de Valeria, a quem carinhosamente chamava de Nega, viveu muitos momentos felizes e aproveitou a vida a dois. Ramon tinha o sonho de ser pai, mas isso não chegou a se tornar realidade. Era carinhoso e bem amoroso com a esposa e com a família. Valeria conta que uma vez eles foram à praia e, enquanto sorria filmando a esposa com medo do mar, dizia: "Vai, Nega! Vou te trazer mais vezes".

"Ramon era muito carinhoso comigo, levava café na cama para mim, fazia massagem nos meus pés... era cuidadoso", conta Valeria e afirma: "Ele foi o amor da minha vida. Saudades eternas dos momentos vividos e por viver!"

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"Ele era fascinado por Xbox e videogames, Forza Horizon ─ um jogo de corrida ─ era um dos seus preferidos, eram sempre jogos de aventura. O primo Maicon e o cunhado Daniel foram influenciados por ele e compraram um igual", relembra Renata, irmã de Ramon, rindo com a lembrança.

Era do tipo curioso. Quando algo parava de funcionar, dava um jeito e arrumava; quando se tratava de consertos em computador, era com ele mesmo.

Ramon tinha várias manias, mas a que mais faz falta é a maneira especialmente carinhosa e única que ele fazia carinho: gostava de fazer cafuné em quem queria bem. Enquanto secava a louça, era comum que estivesse cantando e dando voltas e mais voltas ao redor da mesa. "A gente dizia que ele ia acabar furando o chão, de tanto que rodava", conta Renata já saudosa das brincadeiras de "Mon", como ela carinhosamente apelidou o irmão.

Depois de cada dia de trabalho, antes mesmo do merecido descanso, Ramon fazia questão de saber como estava cada um dos familiares. "Na época em que eu estava grávida, muitas vezes nos encontrávamos na volta do trabalho. Ele me ajudava a descer do ônibus com todo o cuidado. Que saudade sinto disso!", relata a irmã.

"Vivemos muitos momentos engraçados, mas um dos que a gente vivia relembrando foi quando ainda bem pequena enchi a boca de areia e ele foi correndo contar pra minha mãe, que na hora pediu para que ele me ajudasse, que pedisse para eu abrir a boca e resolvesse a situação. Eu, pirracenta, não abri. Ele insistiu e conseguiu abrir minha boca para tirar toda aquela areia, mas... acabou levando uma bela mordida", conta a irmã engatando mais uma lembrança boa da época de infância: "Quando éramos crianças e meu primo Márcio vinha passar férias na nossa casa, a gente brincava de ringue de luta, e eu era a moça que dava a largada. Para que ninguém percebesse, era tudo feito às escondidas, porque senão a coisa ficava feia para nós", conta ela. "Mas quando eu via a coisa ficando séria, eu ia correndo contar para minha mãe e, depois, eles ficavam com raiva de mim".

Todas essas lembranças trazem sorrisos ao rosto de Renata, que também enaltece o lado mais sério de Ramon: o caráter. "Sempre foi muito prestativo, ajudava em tudo que estivesse ao seu alcance. No trabalho sempre foi correto e muito esforçado. Era um menino de caráter mesmo! O que mais ouvimos depois de seu falecimento foram frases sobre o quão exemplar era em seu trabalho e o quanto era esforçado. Para ele não tinha tempo ruim!"

Para toda a família, Ramon será sempre o "menino de ouro", o menino simples que era fácil de agradar. Aquele que cuidava e zelava por todos, principalmente pelos pais e pela esposa.

Por conta de seu trabalho diário no transporte público, assim que teve início o isolamento social em Barueri, cidade onde morava, a primeira coisa que fez foi tentar proteger ao máximo a família. Num ato lindo e gentil, ele pensou primeiro nos outros, depois em si.

Ramon tinha sonhos de conquistar as coisinhas e o cantinho dele, ser pai, ter um carro e um trabalho na sua área de formação. Mas o maior sonho mesmo, segundo conta Renata, ele realizou plenamente: teve uma vida de comunhão e intimidade com Deus.

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Simão Mon era o apelido carinhoso pelo qual a mãe, dona Maria de Jesus, chamava Ramon. Era uma fusão entre uma referência bíblica e o nome do filho. Ela conta que ele gostava demais de comer, suas comidas prediletas eram strogonoff e arroz-doce. Todas as vezes que Ramon terminava a refeição, agradecia e dizia que tudo estava uma delícia.

"Todos os dias, pela manhã, ele passava em meu quarto quando chegava do primeiro turno de trabalho e falava: 'Bom dia, mãezinha! A senhora está acordada?' e dava aquele abraço de urso que me fazia ter a sensação de estar sendo carregada no colo", conta dona Maria de Jesus que, como era bem mais baixa que o filho, tinha que ficar na pontinha dos pés para retribuir o gesto de carinho.

A mãe relembra certa vez, quando ele ainda era pequeno, que estavam na casa de uma das tias de Ramon. Eles tinham acabado de tomar o café da tarde, com direito a coxinha e tudo mais. Ninguém esperava ter fome tão cedo, mas após algum tempo Ramon perguntou: "Não vai ter janta? Estou com fome!" Ao ser questionado: "Mas você não está cheio?", ele colocou a mãozinha na barriga, ali por onde fica o estômago, e disse: "Mas o meio ainda tá vazio!" e todos riram muito daquela situação.

"O Mon tinha a responsabilidade de nunca faltar nem ser preocupação no trabalho", conta a mãe orgulhosa. "Por sair de madrugada para trabalhar, era muito preocupado em sempre avisar que estava tudo bem, a fim de nos deixar tranquilos", relata ela.

"Ele sempre foi um ótimo filho, tinha um cuidado enorme conosco, fazia videochamadas nas noites de domingo e falava com frequência: 'E aí, mãezinha!? Tudo bem? Novidades?' Seus sonhos eram: ser pai, dar continuidade aos estudos, viajar com a esposa, fazer o curso de técnico de celular, ter uma casa no campo e um carro", conta a mãe e conclui lindamente sua homenagem:

"A saudade é infinita. Você foi, continua sendo e sempre será o presente de Deus na vida da mamãe, o meu amigo, o meu menininho, o meu companheiro, o meu eterno Simão Mon."

Ramon nasceu em Carapicuíba (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa, pela irmã e pela mãe de Ramon, Valeria Ribeiro Silva, Renata Souza da Silva e Maria de Jesus. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de março de 2021.