1958 - 2020
Seu sonho era ser pedagoga. E ela conseguiu! Apresentou o TCC em meio à pandemia e foi aprovada.
Entre as muitas formas de conexão possíveis, uma das mais preciosas nasce da atenção. Raquel dedicava sua atenção às pessoas, integral e cuidadosamente. Para isso, se planejava. Criava inúmeras listas de orações, tarefas, pagamentos do mês e compromissos, tudo em planilhas eletrônicas.
"Uma das coisas que a minha tia mais gostava era de ajudar o próximo, fosse em orações da Seicho-No-Ie, sua religião, visitando doentes ou ajudando familiares”, relata o sobrinho Oscar.
No trabalho, Raquel e sua irmã eram a dupla imbatível das corretoras de seguros em Belém, exemplos para a classe.
Para Oscar, tia Kel sempre foi o elo que unia os irmãos, primos e sobrinhos. "Ela foi minha segunda mãe. Ensinou-me tudo, daquele jeito dela".
O sobrinho guarda, desde pequeno, um presente, a memória afetuosa “daquele jeito dela” — um jeito atencioso e inventivo. "Eu morria de medo de tomar vacina, agulhada, qualquer remédio por injeção. Sempre que ia tirar sangue com ela, eu chorava muito. Ela segurava minha mão e dizia pra eu fechar os olhos, pra eu imaginar que ia entrar no mar naquele momento. Quando percebia, já tinha sido furado e estava com a sensação de ter estado na praia".
Raquel realizou, durante a pandemia, o sonho de se formar em Pedagogia. Na noite de formatura, ocorrida depois de sua partida, a faculdade prestou uma homenagem a ela e seus familiares estiveram presentes, celebrando sua conquista.
“Ela dizia que a doença não tomaria conta do seu corpo e é assim que vou me lembrar dela sempre: forte como uma rocha. Eu te amo e aguardo nosso reencontro. Pra sempre tia Kel”, despede-se Oscar.
Raquel nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo sobrinho-filho de Raquel, Oscar Lifschiitz Fernandes Santos. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Tatiana Natsu, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de outubro de 2020.