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Regina Márcia Pessanha Leandro

1947 - 2020

A paixão pela família era o traço marcante dessa rainha que fazia o melhor chuvisco.

Filha de Arthur Pessanha Leite e Edy Barreto Pessanha, Regina Márcia teve duas irmãs: Tarcila (a tia Tatá) e Carmen Lúcia (a tia Calú), além de quatro irmãos: Oscar, Luiz Sérgio (o tio Preta), Sérgio Luís (o tio Branca) e o caçula, Arthurzinho.

Foi esposa de Roberto, o Bebeto; mãe de Fábio José, Roberto, Flávia e Rodrigo; e avó de Luiza, Heitor, Sophia, Valentina, Enzo e o mais novo, Théo. Esse último, Regina nem pôde pegar no colo, como adorava fazer com os demais netos, pois quando ele nasceu “a quarentena já estava instalada e, por ser recém-nascido, sem vacinas e anticorpos, não podia ter contato com pessoas diferentes de seus pais e seu irmão”, conta o filho Roberto.

Regina adorava quando seus filhos, noras, genro e netos estavam em sua casa saboreando seus deliciosos pratos.

“Fazia as vontades de todos”, afirma o filho. Desde o macarrão da neta mais velha, ao molho à campanha e o arroz sem óleo de soja, substituído pelo azeite, por intolerância do neto Enzo. Aliás, segundo Roberto, Regina pesquisou, aprendeu e fez receitas substituindo os ingredientes necessários para que Enzo não ficasse desassistido em relação aos demais, já que ela gostava de agradar cada um deles com seus pratos preferidos.

Chamada de Dinda Regina por todos os sobrinhos, era a matriarca da família. “Todas as reuniões familiares eram em sua casa, sempre com muita fartura, muitas variedades de pratos, inclusive deliciosas sobremesas, tudo feito carinhosamente por ela que, por muitas vezes, começava a cozinhar no dia anterior”, lembra o filho.

Não há quem não elogiasse seus quitutes, do mais simples ao mais requintado, do ovo frito ao robalo recheado com camarões selecionados a dedos por Bebeto, seu amado marido.

Dentre os pratos que constantemente fazia, registra-se o chuvisco, doce típico de Campos dos Goytacazes (RJ), à base de gemas de ovos, açúcar e pó de arroz; receita que ela insistia em querer passar para alguém da família, dizendo que quando ela partisse, ninguém mais comeria chuviscos gostosos como os dela. “E se gabava por não ficarem com cheiro de ovo, embora esse fosse o principal ingrediente do doce, mas sua técnica não deixava tal sabor. Fazia um chuvisco especialmente gostoso, mas não houve realmente quem aprendesse a receita. Logo, chuvisco como o dela, estamos para encontrar...”, diz Roberto.

Sem falar do cozido, prato típico português, que servia inicialmente no restaurante da família - o Timbukas, nas décadas de 1980, 1990 e 2000. “Chefiava a cozinha com mãos de fada, como carinhosamente a chamava sua sogra, dona Marina. E depois, nas reuniões da família, não havia quem não pedisse tal prato”, recorda o filho.

E ainda fazia outras preciosidades. Completavam o cardápio a feijoada, o feijão tropeiro, as empadas e os diversos doces.

Regina também adorava papagaios. Afirma Roberto que, na década de 2000, Regina adquiriu um, a quem chamou de "Louro José". Ensinou-lhe a cantar algumas músicas, chamá-la de mamãe Regina e dar gargalhadas — “marca inesquecível dessa guerreira”.

Era fã do Roberto Carlos. “Todos os anos, era presenteada pelo marido com o LP do Rei e, posteriormente, com a chegada dos CDs, os presentes continuaram”, diz o filho.

Gostava de tomar uma cervejinha todos os finais de semanas. “Estava sempre acompanhada de sua fiel escudeira, a tia Calú”, recorda Roberto.

A alegria de viver e o amor pela família eram traços marcantes de Regina - “uma verdadeira rainha”, afirma Roberto, referindo-se ao significado do nome da mãe, que ela orgulhosamente sustentava.

Com saudade e gratidão, Roberto finaliza sua homenagem: “A partir de hoje, mãe, ouvir muitas músicas, principalmente ‘Lady Laura’ e ‘Meu querido, meu velho, meu amigo’, de Roberto Carlos, será tão doloroso... fará com que nos lembremos de vê-la chorando, e de nossas tentativas em consolá-la por lembrar-se com saudades de sua mãe e de seu pai."

Mãe querida, sabemos que seu lugar está reservado ao lado do Pai Celestial, e pedimos que olhe e cuide dos que precisam da sua imperiosa intercessão junto ao Nosso Deus.

Descanse em paz nossa Mãezinha, Mãezona, Vida, Baixinha, Vovó Regina, Vó Gina, Dinda, Geninha, Gigi... Descanse em paz, nossa RAINHA!”, despede-se o filho.

O filho de Regina, Fábio José, e o marido Bebeto também faleceram vítimas do novo coronavírus. Os tributos de Fábio José Pessanha Leandro e Roberto Passos Leandro estão publicado no Inumeráveis.

Regina nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e faleceu em Campos dos Goytacazes (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Regina, Roberto Passos Leandro Júnior. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Stefanoni, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de outubro de 2020.