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Reinaldo Figueiredo

1943 - 2021

Recordava-se com muito carinho da época em que tocava pelos carnavais afora, sentia que levava alegria para as pessoas.

Carinhosamente chamado de “Nardo” por familiares e amigos, foi sobretudo um homem que nunca perdeu a fé em Deus, na vida e, mesmo em momentos difíceis, no Corinthians. Nascido em 7 de julho de 1943, na cidade de Limeira, interior paulista, foi o segundo filho de José Figueiredo e Theresa Poloni Figueiredo. Além dele, um irmão mais velho e cinco irmãs mais novas completavam a família.

Proveniente de um lar muito humilde, aprendeu desde muito pequeno o valor do trabalho. Aos treze anos, já trabalhava em meio aos canaviais. Este fato era motivo de muito orgulho para ele, que fazia questão de se lembrar disso todas as vezes, que ouvia alguém reclamar de alguma dificuldade na vida: “Na sua idade eu já cortava cana! Isso não é nada!”, dizia ele. Com o mesmo empenho dedicado aos seus compromissos, valorizava cada centavo milimetricamente calculado e se orgulhava de manter as contas habitualmente em dia, com muito suor.

Mantendo sólidas convicções, no ano de 1967, conheceu Maria Conceição: do encantamento à primeira vista, logo contraíram matrimônio e, posteriormente, construíram uma bonita família. A união com Maria era de muito amor! Os dois viveram juntos por quarenta e cinco anos até que, em 2012, Maria veio a falecer acometida de um câncer. Mesmo viúvo, nunca tirou a aliança do dedo e não passava um dia sequer, que ele tivesse lembranças de sua doce Maria. Ela era coração, ele razão.

Como frutos desse enlace, vieram Alexandre e Renata, educados com o mesmo regime de trabalho duro e dinheiro contado. Apesar de sua rigidez, Nardo tinha um jeito próprio de demonstrar o amor e o carinho que sentia pelos filhos.

Por trás da figura rígida e exigente, existia um jovem explorador e ativo que visitou muitas cidades e estados. Lembrava-se com esmero dos tempos de mocidade em que ia nadar com os amigos e pescar nas represas da região. Por dezoito anos, integrou a Corporação João Guilherme Sabino Ometto, Banda Marcial que fazia apresentações por diversas cidades da região.

Criado com poucos recursos, sabia se virar muito bem com o pouco que tinha: era o “faz tudo” da família, realizando inúmeros reparos nas casas dos filhos. Mesmo quando eles diziam que não precisava, Nardo insistia e fazia o melhor possível. Superativo, para ele, a idade era um mero número. Sua diversão era passar as tardes com velhos amigos no “Bico do Corvo”, um dos pontos da Praça Matriz de Iracemápolis. Sentia plena satisfação em estar com seus amados netos: Vinicius, Gabrielle e Lucas, tanto que fazia questão de levá-los e buscá-los, quando era necessário.

Aos poucos, rendeu-se aos avanços da tecnologia, fez curso de informática e entrou na era moderna ao criar WhatsApp, Facebook, até mesmo um e-mail. Tudo para ter maior contato com a família!

Nem mesmo quando um problema na coluna o prendeu a uma cadeira de rodas, deixou de ser ativo e perder sua fé no Pai Eterno. A cada fisioterapia, uma vitória. Em cada saída de casa, um evento. A cada visita de familiares, uma alegria imensa.

Fazia parte de sua personalidade, querer tudo do jeito dele. Era metódico e sempre foi acostumado a uma mesma rotina, com os mesmos velhos hábitos de fumar seu cigarro após um copo de café mais forte, que a própria teimosia. Ainda que seus últimos dias tenham sidos definidos em horários de remédios, fisioterapias e pausas para rezar a Santa Missa, nunca perdia seu bom humor.

Além disso, realizava religiosamente ligações aos filhos e toda noite fazia as mesmas perguntas: “Como estão meus netos? Quando vocês vêm me visitar e buscar o bolo?”. Praticamente toda semana, pedia à irmã, que morava na casa ao lado, para lhe preparar um de seus bolos deliciosos, chamava os filhos e os netos para saborearem a guloseima com ele. Como o bolo era bem grande, acabávamos levando alguns pedaços para casa.

Tinha mais preocupação com a família do que com ele mesmo, fazendo questão de ter uma foto de cada um de seus amados emoldurados em porta-retratos mantidos numa estante da sala junto a inúmeras imagens de santos e terços, aos quais ele rezava fielmente todos os dias.

É nosso querido Nardinho, foi essa sua fé que te trouxe tão longe e te deu uma força imensa para suportar tudo com sorrisos e bom humor. Foi sua fé que fortaleceu seus filhos em cada consulta médica e ida ao hospital. Foi sua fé que te levou ao Céu e ao reencontro com sua amada Maria.

Seu legado será lembrado eternamente, não parou de lutar nem na mais ofegante respiração. Foi marcante em cada vida que tocou e será constantemente lembrado com carinho por seus amigos e familiares. Seus olhos azuis cheios de vida e esperança agora estão misturados com o azul do Céu, acompanhando-os o tempo todo, onde quer que esteja.

Reinaldo nasceu em Limeira (SP) e faleceu em Limeira (SP), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto de Reinaldo, Vinicius Alexandre Moraes Figueiredo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vinicius Alexandre Moraes Figueiredo, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 16 de maio de 2022.