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Renata Teixeira Vieira

1975 - 2021

Alguém que viveu na luz e, na pureza de sua inocência, só praticava o amor e o bem.

Conhecida por todos como Rosinha, ela era um verdadeiro anjo na terra. Era a mais velha de cinco irmãos, portadora da Síndrome de Down e não havia quem não gostasse dela.

Foi uma mulher que se conservou menina, sempre muito carinhosa, delicada e observadora; ao mesmo tempo, tinha uma personalidade forte e era dona de si. “Ela não tinha maldade, não tinha malícia; ela só tinha amor, ela era feita de amor e sempre foi um 'grude' com sua mãe”, relembra a sobrinha Rafaela.

Suas brincadeiras de infância alegravam-na também na vida adulta: amava brincar de "lutinha", colorir, colecionar cartões de orelhão, canetas, canetinhas coloridas e afins. Gostava muito de cantar e as modas sertanejas eram suas favoritas enquanto o banheiro, que mais parecia uma sauna na hora do seu banho, era o seu palco.

Ela não gostava de enfeitar-se com brincos e pulseiras, mas parecia carregar consigo um tipo de beleza natural. Não dispensava perfumes, nem os cremes que passava na pele, por isso estava sempre cheirosa.

Rosinha não conhecia o pecado, nem as armadilhas dos maus. Por isso, só lhe era permitido sair de casa para ir à padaria e ao mercadinho, que ficavam perto de sua casa; quando muito, podia sair para levar os sobrinhos na pracinha. Sua mãe tinha que estar sempre de olho para ela não fazer traquinices e cada história relembrada deixa transparecer a sua inocência.

Quando pequena morava numa fazenda, com uma vida pobre e sem luxos. Certa vez, sua mãe ficou muito feliz porque ela ganhou um par de brincos de ouro, mas sua simplicidade era tanta que, quando a mãe percebeu, Rosinha os havia jogado no galinheiro e nunca mais foram encontrados.

Rafaela conta com carinho o quanto se sentia protegida pela tia na infância: "Rosinha nunca chegou a se casar e nem mesmo a namorar; porém, amava e cuidava dos seus sobrinhos como se fossem seus filhos. Sempre brincava conosco e não aceitava que ninguém nos agredisse”.

E relata ainda um outro episódio interessante: “No bairro onde ela morava junto com a mãe havia uma senhora com problemas mentais chamada Tereza e Rosinha sempre gostava de cumprimentá-la; esta, por sua vez, ora respondia de forma gentil e ora nem tanto. Um dia Rosinha falou “oi” para ela e voltou para casa muito brava contando que Tereza em vez de responder ao seu cumprimento, havia lhe chamado de “rapadura”.

Mãe e filha cultivaram fortes laços de afeto até o fim, quando ambas adoeceram. Ficaram internadas lado a lado numa UTI e chegaram a apresentar melhoras incríveis depois que as colocaram tão próximas.

Só que Rosinha não resistiu. Se antes era um anjo na terra, agora é um anjo no céu. Em outro plano, continua a exercer sua proteção, intercedendo por todos aqueles que amou e cuidou tão bem durante toda a sua vida.

Renata nasceu em Rio Verde (GO) e faleceu em Rio Verde (GO), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Renata, Rafaela Teixeira Oliveira e Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 19 de setembro de 2021.