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Rhonaldo Paulino de Andrade

1954 - 2020

Impossível lembrar dele sem pensar em análises clínicas, Vasco e cerveja.

Esta é uma carta aberta de Thais para o seu avô, Rhonaldo:

Avô de nove, bisavô de dois, viveu boa parte da vida no Hospital Geral de Bonsucesso, cuidando do laboratório de análises clínicas. Com fala apressada, sempre foi atencioso com os pacientes e com seus aprendizes. Enxergava veias a quilômetros, ria do medo dos netos ao tirar sangue, mas os mimava, usando a menor agulha possível e fazendo piada.

Ainda que trabalhasse em hospital, tinha um certo pânico de se tornar um paciente. Quando quebrou um dedo, não conseguia mais tirar sangue, operar estava fora de cogitação. Mas ria disso, não se abalava.

Tinha amor pelo Vasco, mas esquecia dos campeonatos. Sentava-se para ver os jogos e brigava com os jogadores ou dormia. Tudo dependia do ritmo. Na Taça Guanabara de 2019, vibrou tanto que parceria que seu time vencia o mundial.

Junto a tudo isso, Rhonaldo era jogador assíduo de Travian, um joguinho de RPG, ao qual dedicou muitas e muitas horas, ainda que não soubesse exatamente o que significavam essas três letras. Mas seria impossível descrever Rhonaldo sem sua cervejinha de sempre. Frio ou calor, chuva ou sol, ele jamais dispensaria uma Brahma gelada. Tinha muito amor por Marizinha, com quem implicava, brigava, mas fazia todas as vontades dela.

A Guilherme e Gabriella, seus netos mais próximos, nunca hesitou em absolutamente nada. Era tanto amor que multiplicou para Miguel, seu bisneto xodó.

Deixará saudade em tantos momentos, a tantas pessoas. Nunca o esqueceremos seu bigode e seu coração do tamanho do mundo.

Rhonaldo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Rhonaldo, Thais Ensenat . Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.