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Rita de Cassia Lima

1965 - 2021

Seu gosto por roupas com estampas desconexas foi a alegria dela que a vida inteira sorriu, amou e aconchegou.

Nascida na Paraíba, Rita de Cássia fez o mesmo caminho trilhado por nordestinos. Deixar a terra natal para buscar melhor condição de vida no Sudeste. Escolheu o estado do Rio de Janeiro, onde formou a família e desenvolveu sua vida profissional. O filho Igor conta: “mãe de três filhos, avó de um neto e mãe emprestada de alguns amigos meus e dos meus irmãos, era conselheira da família e quem fazia o melhor café e bolo de laranja do mundo”. Para ele, a mãe era um ser humano espetacular.

Trabalhando como empregada doméstica e babá, iniciou a vida profissional. “Trabalhou em casa de família muito rica, conheceu meu pai, tiveram minha irmã e foram para Itacuruçá, onde nasceu meu irmão e, depois, eu”, diz Igor. Rita de Cássia não recebeu do marido o apoio necessário para formar a família. Para ela, educar os três filhos era uma prioridade absoluta. “Ela sempre se esforçou ao máximo para dar o seu melhor para nós três, não em bens materiais, mas em amor e educação. Tivemos uma infância com restrições, e imensamente rica de experiências e amor. São muitas as lembranças de minha mãe deixando de lado suas vontades para suprir as nossas”, exalta o caçula.

O maior orgulho na vida de Rita de Cássia eram os três filhos. Foi por ela que Igor terminou a faculdade, honrando o esforço feito pela mãe para a formação dele e dos irmãos.

Rita de Cássia foi uma batalhadora. Não se abatia diante de dificuldades. “Ela tinha um espírito inabalável, sempre sorrindo, sempre bem humorada, sabia rir de si mesma e me fazia rir, fosse com suas dancinhas desengonçadas, ou quando cantava os hinos de maneira totalmente errada ao lavar a louça, ou ainda quando eu caçoava do seu estilo de roupa de gosto duvidoso, como um mix de estampas desconexas que eram sua vibe. Sua risada é a lembrança mais forte em mim”, conta o filho.

No dia a dia, Rita de Cássia era puro cuidado e afeto. Igor testemunha: “Sinto falta do meu abraço matinal, seguido de um ‘mãe, tem café?’ e receber de volta "claro, né, Igor"; sinto falta das pequenas desavenças diárias, comuns pra quem vivia junto e que não duravam cinco minutos; sinto falta da batida na porta do meu quarto pra ver se estava tudo bem; sinto falta do ‘Igor! Vem almoçar’, seguido do discurso falando que a comida ia esfriar e que eu ainda não tinha ido comer, e que ela não ia esquentar o almoço de novo e que ia pousar mosca e mais um milhão de coisas; sinto falta de ver minha mãe na sala de tarde tirando seu cochilo antes de começar a novela; sinto falta de te dar um beijinho de boa noite e dizer que te amo; sinto falta de você mãe, de você toda, nem um pedacinho de você eu deixaria pra trás, eu amei você por completa, pois você fez isso antes por mim. Não poder te retribuir em vida tudo que você merecia é o que mais me dói, e de todos os ensinamentos que você me passou, só faltou o mais importante: como viver sem você. Amo você”.

Rita nasceu em Sousa (PB) e faleceu em Volta Redonda (RJ), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Rita, Igor Lima Teixeira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 8 de dezembro de 2022.