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Roberto Charles Malaquias Sousa

1968 - 2021

Agia com a verdade e não dava ouvidos para fofocas.

Roberto era o filho mais velho da Dona Dinalva e do Senhor Ramiro. Sua mãe tinha que trabalhar como doméstica para ajudar ao pai nas despesas de casa e deixava Roberto como responsável pelos cinco irmãos: Marisa, José Ronivon, Ronier, Cristina e Cristiane. Na época ele tinha, entre outras tarefas, a de fornecer o almoço que era preparado pela mãe antes de ir trabalhar para eles. Eram tempos muito difíceis e faltavam os alimentos preferidos das crianças, o que fez com que Roberto, muito cedo, procurasse trabalho na feira, aos sábados, para comprar agrados para a criançada e aos domingos gostava de jogar futebol com os tios.

Aos 14 anos começou a trabalhar como office boy. Na mesma rua do serviço tinha uma fábrica de biscoitos que vendia a preço mais baixo aqueles quebradinhos, mas ainda gostosos e o Roberto comprava para agradar aos irmãos. Quando foi ganhando melhor, passou a comprar também roupas para os irmãos. Ele era assim, pura generosidade e cuidados, lembra o irmão Ronivon.

A generosidade era extensiva a pessoas de fora do círculo familiar. Ele teve um colega de trabalho cadeirante chamado Rocha que tinha o sonho de ser advogado. Comovido com essa história, Roberto não só estimulou com palavras o amigo, mas se comprometeu com ele levando-o à faculdade e auxiliando nas tarefas. Ambos se formaram em direito e Rocha realizou seu grande sonho com a ajuda do amigo.

O Roberto foi o tio querido dos vários sobrinhos e por ser o irmão mais velho, sempre foi muito ligado à família. Ele tinha o sonho de se tornar pai, então enquanto esse sonho não se realizava ele sempre pegava sobrinhos para passear, levar à praia, para a chácara... Quando se tornou pai foi muito presente na vida da filha Lavinia. Sempre muito carinhoso e cuidadoso, o que fazia a filha ser super apaixonada por ele. Eles saíam muito para passear. Um fato marcante é que dois meses antes da sua partida ele começou a sair mais aos domingos para almoçar fora com a filha e postavam as fotos.

Ao se separar, teve, na cunhada Quitéria, que ele carinhosamente chamava de Quica, o apoio necessário para ajudar a cuidar da filha e foi essa cunhada-irmã que cuidou dele quando adoeceu.

Advogado de formação e santista de coração, gostava de futebol, viajar e ouvir música. Durante a pandemia trabalhou como taxista. E o legado que Roberto deixou foi de ser um homem generoso e dedicado à família, imparcial em relação a conflitos familiares, sempre tentando resolver da melhor maneira possível. Buscou ajudar o próximo, sendo esse familiar ou não, sem esperar nada em troca.

Roberto nasceu na Bahia (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo irmão de Roberto, José Ronivon Malaquias Sousa. Este tributo foi apurado por Mariana Nunes, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 21 de abril de 2022.