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Rodolfo Aparecido Nacci Martins

1961 - 2020

Gostava de brincar nos aniversários, trocava as velas de lugar. O maior pedaço de bolo tinha que ser dele.

Um cara de poucas amizades e, justamente por isso, dava o maior valor aos amigos.

Tinha várias paixões, entre elas, a maior de todas eram os carros. "Adorava dar seus passeios e limpar a lataria. Tinha até ciúmes dos carros", conta a filha Aline.

Excelente pai e esposo, todos os dias, saía de Itapevi para trabalhar em Diadema, sempre com bom humor, apesar do percurso tão longo e cansativo. Amava trabalhar e fazer suas vendas.



Torcedor do Santos, apaixonado por carros e relógios.

Rodolfo era casado com Marilu Marisa e tinha duas filhas: Aline e Lorraine. Não tinha netos, mas chamava os gatos das filhas de netos. A gatinha de Aline, inclusive, se chama Rodolfa em homenagem ao "avô". Os outros gatos-netos são Taylor, Sebastian e Wendy.

Segundo a filha Aline, Rodoldo “fazia tudo para a esposa, que é mais idosa e doente. Muitas vezes, ela ia fazer algo e ele dizia que não precisava, que podia deixar com ele. Brincava que era marido de aluguel”.

Essa história de amor começou quando seu pai, que era militar, foi trabalhar em Manaus e, então, Rodolfo foi morar em uma vila militar, onde conheceu a vizinha, Marilu Marisa, que morava com a irmã e o cunhado, também militar.

Rodolfo era DJ em Manaus e os dois sempre saíam juntos, afirma a filha. Foi um período tão bom que, segundo ela, o pai dizia que ainda queria abrir uma discoteca "como as de antigamente".

Quando o pai de Rodolfo foi transferido de Manaus para São Paulo, os dois já namoravam. Rodolfo então disse que só voltaria se fosse junto com Marilu Marisa como sua esposa. Os dois se casaram e, durante os primeiros anos, moraram em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo com os pais de Rodolfo.

Após nascer a primeira filha, o casal se mudou para Itapevi, uma cidade vizinha, e ali Rodolfo permaneceu, trabalhando e cuidando da família.

Ele trabalhava no setor de madeiras, como autônomo. “Nunca tirou férias”, declara Aline. “Sempre trabalhou longe de casa; só parou de viajar durante a pandemia, quando fez home office”.

Ele possuía alguns problemas de saúde, como uma úlcera na perna, consequência de um acidente de quando ainda era jovem; e também diabetes, que sempre foi controlada, exceto durante a pandemia. Segundo a filha, o pai era um “lutador”.

“Cabeça branca”, como era chamado por alguns amigos por ter fios grisalhos desde os 19 anos, era apaixonado por carros, relógios e pelo Santos Futebol Clube.

O primeiro carro que adquiriu, quando Aline era pequena, foi uma Caravan. E esse amor também foi eterno e o acompanhou durante toda a vida. “Ele sempre teve paixão por carros! Passava horas e horas arrumando, querendo embonecar os carros”, lembra a filha. “Quando ele saía com o carro, na volta colocava na garagem, limpava, passava um pano, trocava os jornais de dentro; se pegava chuva, secava pra poder guardar. Ele sempre foi muito, muito cuidadoso com os carros. E não deixava ninguém tocar, dirigir o carro. A gente brincava que ele tinha mais ciúme dos carros do que das filhas”.

Outra paixão de Rodolfo eram os relógios. Ele tinha uma coleção de relógios de pulso e de bolso, de todas as marcas e modelos. “Ele tinha uns quinze relógios de pulso e uns cem, cento e cinquenta relógios de bolso”, declara Aline. “Se a gente quisesse dar um presente que ele gostasse, era só dar relógios ou coisas do Santos”, conta a filha.

Rodolfo era torcedor do Santos. Na verdade, segundo a filha, “era doente pelo Santos: se o time perdia, ficava mal-humorado e até brigava”.

Mas, fora isso, gostava de brincar com as visitas e nas festas de aniversários. Brincava com as visitas que cobraria desde o aluguel da cadeira até a comida consumida. E, nas festas de aniversário, adorava inverter as velinhas. “Cantava os parabéns, a pessoa aniversariante soprava a vela e aí, ele ia lá, todo sorridente, e trocava as velas de lugar para brincar com as pessoas", recorda Aline.

O tempo não tem o mesmo brilho na ausência de Rodolfo. Ficam a saudade e a lembrança das paixões desse pai reatualizadas diariamente no motorzinho afetivo da "neta" Rodolfa.

Rodolfo nasceu em Salto (SP) e faleceu em Itapevi (SP), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Rodolfo, Aline Aparecida Semmensato Martins. Este tributo foi apurado por Jéssica Avelar e Talita Camargos, editado por Ticiana Werneck e Denise Stefanoni, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de dezembro de 2020.