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Rodrigo Pereira Ferreira

1977 - 2020

Herói da Aninha, dono de um coração gigante e um verdadeiro amigo de todos.

“Onde está Wally?” Essa era uma pergunta frequente de quem conhecia Rodrigo. Com sua mochila nas costas, tênis e boné, saía andando pelas ruas de Niterói e ninguém nunca sabia onde ele estava. Amava andar pela cidade e fazer tudo que precisava assim, sem depender de veículos.

Gostava de viver em paz, sempre muito caseiro e rodeado da família, principalmente da Aninha, sua filha. Como um bom torcedor, o que também não podia faltar eram os jogos do Flamengo, seu time do coração, acompanhado da cervejinha e dos petiscos, como a moela frita que tanto gostava.

Mas sua paixão mesmo não era o futebol, era a Aninha. Como amou essa menina! Os dois dormiam juntos todas as vezes que ela estava na casa dele e sempre que podiam iam para a praia. A filha foi tudo para ele. Desde os primeiros dias de vida, esteve junto, dando papinha e ensinando a fazer xixi sem a fralda. Já com 11 anos, ela mostra orgulhosa suas notas da aula de informática. “Tive o melhor professor”, conta ela sobre seu pai herói.

Rodrigo foi técnico de informática e fazia manutenção em computadores. A filha não foi sua única aluna, tinha nas senhoras da terceira idade um grupo fiel para quem ensinava com muita paciência a usar o computador e navegar pela internet. As alunas se transformavam em amigas rapidinho, pois Rodrigo tinha o dom da escuta e um enorme prazer em ajudá-las com os aplicativos ou problemas tecnológicos, e ainda resolvia coisas na rua para aquelas com problemas de locomoção.

Apesar de tímido, Rodrigo cultivou muitas amizades ao longo da vida. Seu jeito brincalhão, herdado do pai Ilson, certamente contribuiu para isso, além de sua presteza, já que sempre foi um verdadeiro amigo dos amigos. O grupo do quebra-molas hoje está mais silencioso sem Rodrigo, os amigos de infância ainda mantêm contato mesmo com a distância. Era ele quem mandava as melhores piadas no aplicativo de mensagens.

Uma amizade verdadeira também era a relação de Rodrigo com seu irmão Rafael. Mesmo na infância, quando brigavam logo tinham que fazer as pazes, porque a mãe, Glória, corria atrás deles e não queria saber quem tinha começado. Eles se escondiam embaixo da cama ou no banheiro, e a mãe logo gritava a memorável fala “um não presta e o outro não vale nada”, no que um já se apressava em responder que não prestava. Os dois irmãos, mesmo sendo um o oposto do outro, cultivaram uma amizade forte com o passar dos anos. Na adolescência Rodrigo tinha Rafael como seu protetor e na juventude saíam juntos para as baladas.

União, carinho e amor pelo futebol sempre foram características fortes da família de Rodrigo. Quando criança ele foi o Djalminha da família, apelido dado pelo primo Roberto, pelo tanto que gostava de futebol. Mesmo não jogando igual ao atleta, ele merecia o título.

Os Natais com a família materna eram sagrados. Sempre se reuniam Ilson, Glória, Rafael, os tios e tias, os queridos primos, a cunhada e os sobrinhos gêmeos, apelidados por ele de "crianças peculiares".

Rodrigo, o Didi da família, dono de um coração gigante, era alegria, prazer de viver e bom humor.

Rodrigo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 43 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo irmão de Rodrigo, Rafael. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Jéssica Avelar, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2020.