1981 - 2021
Seu propósito era visibilizar os catadores de recicláveis como pessoas fundamentais na preservação do meio ambiente.
O inesquecível “Tio Go” nasceu em Volta Redonda, era filho de Elda e teve como companheiro de vida o irmão gêmeo Rafael. Cresceram longe do pai, mas muito, muito próximos da mãe. Por temperamento, Rodrigo acabou por ser a referência masculina para o irmão. “Rodrigo era a metade de Rafael; Rafael, metade do Rodrigo”, diz a mãe, revivendo a história do filho na véspera da passagem de um ano da sua partida. “Rodrigo foi um iluminado, sinônimo de alegria, sempre disponível pra ajudar”, enfatiza Elda.
Nos seus 40 anos de vida, Rodrigo foi um cara amigo dos amigos, que gostava de se divertir com eles, saboreando um bom churrasco. Apaixonado pelo meio ambiente e pelo Flamengo, continua sendo o herói dos filhos Bento, de 14 anos, e Hugo, de 12, nascidos da relação com Nairana. “Era uma família aventureira, os quatro e dois cães bull terrier”, conta a mãe. Em família, gostavam de passear aos finais de semana, assistir aos jogos do Flamengo e ir à praia. A casa deles na Vila Militar era sempre cheia de amigos e muitas crianças. Antes da chegada deles, os moradores se cumprimentavam apenas; depois, a convivência passou a fazer parte da rotina. “Os meninos começaram a jogar bola na rua, Rodrigo convidava vizinhos para um churrasco. Ele era um homem ao mesmo tempo severo e doce. Foi filho, sobrinho, irmão, primo, tio, marido, pai e amigo que largava tudo pra ajudar, socorrer, confortar; era um agregador”, destaca Elda.
A paixão pelo meio ambiente associada à sua consciência social levaram Rodrigo, em 2008, a realizar a primeira Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho dirigida a catadores de resíduos recicláveis do Estado do Rio de Janeiro, em Volta Redonda. Ele trabalhava na prefeitura da cidade, sendo responsável por uma cooperativa. “Sua intenção era trazer à luz uma categoria invisibilizada, visando à sua cidadania”, resume a mãe orgulhosa.
Na trajetória profissional também atuou como técnico de planejamento e como consultor ambiental em empresas privadas. Depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, para servir ao Exército brasileiro. De lá, falava todos os dias com o irmão Rafael. “Eles conversavam sobre tudo, eram muito unidos”, exalta a mãe dos gêmeos.
Elda segue os dias tendo no amado Rodrigo fonte de inspiração. Mesmo vivendo a dor da perda do filho, apoia a família e, quando encontra amigos do filho que partiu, conta que ainda que chorem juntos a falta, riem muito mais pela alegria que ele trazia para a convivência.
No dia 25 de maio de 2022, quando completa um ano da partida do Rodrigo, a praça do bairro onde ele nasceu, em Volta Redonda, receberá uma instalação para coleta seletiva. A homenagem para o filho de Elda, irmão do Rafael, marido da Nairana e pai de Bento e Hugo será compartilhada com a comunidade, oferecendo à população uma ferramenta que vai contribuir para a preservação do meio ambiente. Os latões foram customizados pelos filhos e pela mãe. “Convidamos os amigos pra tomar uma cerveja ou refrigerante enquanto as crianças jogam bola e, assim, vamos inaugurar a instalação”, conta Elda.
A nova instalação da Praça vai ficar numa área que se transformou em um ponto de encontro da comunidade. Ali tem trailer de churrasquinho, hamburgueria, pizza. “Era onde Rodrigo parava antes de chegar em casa quando vinha do Rio para encontrar os amigos e observar os filhos e sobrinhos jogando bola”, relembra Elda. O local agora terá uma marca da crença de Rodrigo na coleta seletiva e na luta pela preservação do meio ambiente.
Rodrigo nasceu em Volta Redonda (RJ) e faleceu em Volta Redonda (RJ), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela mãe de Rodrigo, Elda Rosa Vicente. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 8 de junho de 2022.