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Rogélio Alonso Campuzano Cachaya

1975 - 2020

Médico dos “pés de barro” que atuou na linha de frente contra o vírus.

Filho de mãe brasileira e pai colombiano, Dr. Rogélio, como assim era conhecido, atuou como médico cirurgião nas cidades da fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Para ele, a medicina não se limitava ao ganha pão; era fonte de amor e de inspiração. O amor pela profissão, por toda a sua vida, refletiu-se na dedicação aos pacientes.

Não precisava que as pessoas fossem atrás dele para pedir por socorro. Ele mesmo fazia isso por elas, indo de casa em casa, cobrindo algumas lacunas que o sistema de saúde pública não conseguia preencher. Com sua pasta em mãos, saía pelas cidades e pelas tribos indígenas, atendia com carinho as pessoas humildes e operava de graça nos hospitais de sua cidade quando o prefeito concedia autorização.

Durante a pandemia, Dr. Rogélio decidiu lutar na linha de frente, como fez em toda sua existência. Foi às comunidades fronteiriças, postou em suas redes sociais, foi em todas as casas que conseguiu; doou-se à causa que ele criou. Assim, auxiliou os infectados que não tiveram acesso ao sistema de saúde manauara, da melhor forma que pôde. Atendia ligações, levava medicamentos e aplicava injeções.

Honrou o título de “médico de pés de barro”, que tanto gostava de proferir. Abriu mão de posses, de bens materiais, de riquezas. Seu trabalho solitário foi decisivo na recuperação de muitos enfermos, negligenciados pelo sistema de saúde. Deixou às comunidades indígenas e aos ribeirinhos do norte do Amazonas um legado de amor, humildade e esperança.

Rogélio nasceu em Tabatinga (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo amigo de Rogélio, Marcelo Perdigão Guerra. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Diego Eymard, revisado por Juliana Holzhausen e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2020.