1956 - 2020
Dono de uma coleção de trinta e três perfumes, não apenas ele, mas tudo que era dele ficava perfumado.
Tio Ronaldo era muito presente na vida dos sobrinhos. Sempre ligava querendo saber como estavam e quando iriam sair com ele. Um dos últimos eventos familiares foi um almoço de padrinhos antes do casamento de Renata, sua sobrinha e afilhada. Dias depois, apareceu na “charreata de panela” organizada pela família com o carro todo enfeitado. Generoso, tinha prazer em presentear e ajudar a todos, e colocava apelidos carinhosos em quem gostava.
Ronaldo era muito próximo dos irmãos. Apesar de mais nova, Adriane, sua irmã, se sentia um pouco mãe dele. Na infância, diz que tentou dar um pouco de juízo ao irmão. Sem sucesso. Autêntico, ele apenas ria. Já adulto, sorrindo, desconversava também das broncas que, às vezes, levava da família. Viveu a vida do jeito que quis. Tinha amigos e colegas que gostavam muito dele. Mas sua verdadeira felicidade era estar perto da família.
Vaidoso, andava sempre elegante, cheiroso e arrumado, com a roupa impecavelmente passada. “Chiquérrimo”, define seu estilo a irmã Adriane. Essa característica se também refletia na sua casa, sempre limpa e arrumada, com objetos de muito bom gosto. O carro também era um capricho só. Parte desses objetos ficou com a família, em forma de recordação da presença de Ronaldo.
Na infância, falava que queria comprar uma fazenda, pois gostava muito de bois. Na vida adulta aproveitou bastante o sítio da irmã, onde fazia animados churrascos com a família e os amigos, sempre com comida boa e farta e muita cerveja. A presença de Ronaldo, com sua risada típica e peculiar e sua mania de apertar bochechas, fazia as festas mais divertidas, fosse um aniversário ou só um encontro entre amigos.
Cometeu alguns erros, como todo mundo. Às vezes, gastava um pouquinho demais. Mas ensinou a todos a viver e aproveitar a vida. Ajudou a entender que o tempo que temos é o hoje e só. Ronaldo não deixava nada para amanhã. E tinha um grande amor a Deus.
Amava os animais, não suportava maus-tratos e abandono. Uma vez, chamou a irmã para resgatar um animal. Não o encontraram, mas Ronaldo seguiu fazendo aquele mesmo trajeto por dias, na esperança de encontrá-lo. Os animais, sensíveis como são, percebiam o apreço dele. Quando Ronaldo estava presente, por exemplo, a cadelinha da família só queria ficar com ele.
Era muito apaixonado por música e cantoria, dono de um vozeirão que encantava a todos e animava os encontros de família. Gostava das sertanejas antigas. No passado, além de cantar na igreja, frequentava karaokês em sua cidade e tinha uma coleção grande coleção de CD's e LP's. A letra de uma de suas músicas favoritas ("Brigas", de Altemar Dutra) diz:
“Pois sem amor
Estamos sós
Morremos nós.”
Ronaldo não esteve só. “Ele transbordava amor”, diz sua sobrinha Renata.
Além de padrinho de batismo, seria padrinho de casamento de Renata. Estava muito envolvido em todos os assuntos da união que se aproximava. Sem saber que os padrinhos deveriam usar ternos pretos, já que o noivo usaria azul, comprou um lindo e impecável terno azul para a ocasião. Quando soube do erro, levou na esportiva e todos deram risada. Após sua partida, Guilherme, o noivo, experimentou o terno comprado pelo tio Ronaldo. Incrivelmente, serviu como se tivesse sido feito sob medida. Essa é a homenagem na cerimônia à qual ele tanto quis estar presente.
Ronaldo nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Ronaldo, Renata Aguiar Machado Damasceno. Este tributo foi apurado por Giovana da Silva Menas Mühl, editado por Marília Ohlson, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 22 de agosto de 2021.