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Ronaldo Gobeti

1976 - 2020

Um romântico incorrigível que enviava poesias pela manhã, bem cedo, e fazia chamadas de vídeo hilariantes.

A noiva o chamava carinhosamente de “Meu Rô”.

“O Rô foi meu amigo da adolescência por um tempo quando morei em Catanduva. O melhor amigo, protetor, cuidadoso, companheiro, leal. Voltei pra Minas, de onde sou. Nesse período, que foi de 1991 até 2020, falávamos de vez em quando, pra ter notícias. Em abril começamos a conversar mais, todos os dias, e descobrimos um amor verdadeiro entre nós”. Conta a Alessandra.

Foi uma história linda. Trinta anos depois, muito surpresos, emocionados; descobriram o amor; ficaram noivos, iam casar em julho. Não houve tempo...

Alessandra diz que não acreditava no amor verdadeiro, puro. Diz ainda, em tom de brincadeira, que seu lema era: “Solteira para sempre. Me vangloriava por ser avulsa”.

Mas encontrou esse amor num curto espaço de tempo. Tinham muitos planos. Ele prometeu que ia fazê-la feliz por mais duzentos anos.

Motorista de carreta, desde os 18 anos, amava essa profissão. Transportava Madeira, eletroeletrônicos. Fazia o trajeto São Paulo/Belém. Só pensava em deixar a estrada pra poder ficar mais tempo com a esposa. Falava isso para a noiva...

Assistiram ao filme Nasce uma Estrela da Lady Gaga juntos, por insistência dele. Para verem porque o amor do casal era verdadeiro.

O Ronaldo era o tipo de homem que manda clipes com a tradução das músicas e "Always remember us this way", a música do filme, foi a última que ele lhe mandou.

“É a pessoa mais linda que conheci”, ela diz... “Minha alegria, o bom dia dele”. Até hoje ela acorda às 6 da manhã, que geralmente era o horário que ele lhe mandava uma poesia por “bom dia". Não mandava mais cedo pra não acordar a amada, pois a viagem dele começava às 5h da manhã.

As brincadeiras nas chamadas de vídeo, também são inesquecíveis, ele a fazia rir demais, o tempo todo.

Gostava de cidade do interior, sítio, mato, um lago, rio, pescar. Lugares tranquilos e calmos. Gostava demais da casa dele também, ele dizia “nossa casa”. Adorava chegar em casa, ficar em casa. Curtir a casa. Gostava de cachorro.

Tinha uma moto, sempre gostou demais de moto. Um sonho realizado, encontrar um amor verdadeiro. A parte que ficou por realizar foi viver tranquilo, com algum conforto com essa pessoa.

Era um homem simples. Tenha uma certa mania de limpeza e organização. Morava sozinho. A cada era limpinha, tudo organizado.

Comidas favoritas? Arroz, feijão. Frango assado, costelinha de porco, maionese, carne moída. Sanduíches. Churrasco, refrigerante.

Para os amigos era o "Kabeça". Ele era líder nato, embora não gostasse dessa coisa de ser líder. Era sincero, honesto, leal, decidido. Não mandava recado. O que precisava ser dito, ele dizia.

O último poema enviado a noiva segue abaixo, para eternizar seu afeto e amor verdadeiro:

“Bom dia, minha mulher, minha amada, minha vida. Que seu acordar seja calmo e leve e que sua manhã seja com um despertar tranquilo.

Receba meu beijo e meu abraço sincero de quem ama você todos os dias. Levarei-a na minha mente durante o passar das horas e dos dias até o momento de encontrá-la novamente

Tenha um bom dia, amada esposa!”

Que sejam assim, as manhãs...

Ronaldo nasceu em Catantuva (SP) e faleceu em Catanduva (SP), aos 43 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela noiva de Ronaldo, Alessandra Ramos. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Hélida Matta , revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 22 de março de 2021.