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Rosana Aparecida Urbano

1962 - 2020

Uma pessoa dedicada e um exemplo de vida, serenidade e força de vontade.

Rosana gostava de comer ─ bolos de chocolate estavam entre seus preferidos ─, de jogar cartas e de ir aos cultos da igreja. Prazeres simples e prosaicos, dessas coisinhas que trazem um sorriso ao rosto de puro contentamento, quase uma alegria de criança. Quando combinavam de ir à casa de alguém, gostava de sair bem cedo, não esperava por ninguém.

Seu sonho era terminar de pagar o apartamento e se aposentar. Sonhos simples, de uma mulher trabalhadora e dedicada aos cuidados com o filho Ivo. Aliás, se qualquer pessoa dela precisasse, Rosana ajudaria sem hesitar. Curioso como é esse o perfil que mais se vê entre as mulheres a que tanto pelejam para manter suas famílias nesse país tão desigual: elas não costumam importar-se apenas com seu bem-estar, a dor do outro dói também nelas, elas se importam, são incapazes de negar ajuda, afeto, comida, o que quer que seja.

A filha Thaís conta que um dia foi com a mãe comprar um notebook. Na ocasião, encontraram por acaso o Liminha, assistente de palco e apresentador do SBT, e lembra: "Ela se apaixonou por ele, não sossegou enquanto não tirou uma foto com o famoso". Assim era Rosana, não tinha medo de querer buscar a alegria.

A mãe de Rosana, dona Gertrudes, foi internada ─ tratava-se de uma das primeiras pessoas contaminadas pelo novo coronavírus no Brasil quando ainda não se sabia muito sobre a doença ─ e, ao visitá-la, a filha também foi acometida pela Covid-19. No entanto, nada nesse mundo impediria a filha amorosa de visitar sua mãe.

Rosana partiu três dias antes de dona Gertrudes. Na família, talvez por conta da falta de informações sobre os riscos que todos corriam, houve outras despedidas repentinas e inesperadas: além do pai de Rosana, Emerson; os irmãos dela, Júlio e Rosemary; também foram vítimas fatais durante a pandemia.

"Ela me dizia todos os dias que me amava. No dia que faleceu não foi diferente... Que coração imenso ela possuía! Tinha um amor incondicional pelos netos e um orgulho enorme em mostrá-los. Essa era a minha véia", conta Thaís emocionada.

Rosana foi a primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil, em 12 de março de 2020.

Deixou saudades e muito aprendizado para todos aqueles que amava e que ainda se lembram de suas gargalhadas ao jogar Uno. Seu riso, sua simplicidade, sua coragem e, principalmente sua capacidade de transformar desafios em conquistas, desenhou sua breve, porém bem-vivida trajetória na Terra.

"Você se foi, mãe, mas deixou seu legado. Te amarei eternamente!", despede-se Thaís.

Rosana nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Rosana, Thaís Urbano. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin e Ana Macarini, revisado por Mateus Teixeira e moderado por Rayane Urani em 7 de janeiro de 2021.