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Ruth Maria de Oliveira

1918 - 2020

Luta, vitória, dedicação, disciplina e amor. Sinônimos do que foi a tia Ruth.

Tia Ruth, era assim como todos a chamavam, já que não teve filhos biológicos e era como uma mãe para seus vários filhos do coração – os sobrinhos. Todos eram tratados com grande consideração. A tia ajudou tanto na formação acadêmica deles, como também nos aniversários e nos casamentos. Estava sempre presente para ajudar.

Sua vida não foi fácil, saiu de casa para trabalhar ainda muito jovem e exercia com muito orgulho seu trabalho na produção de medicamentos na Souza Araújo. Além disso, fez o curso de enfermagem.

Ela cuidou de todos os recém-nascidos da família até o umbigo secar. Todos os dias, estava lá a Tia Ruth para dar o banho matinal em duas gerações de sobrinhos. Teve um único umbiguinho que ela não cuidou. “Era motivo de chacota entre os primos: “Nossa! Que umbigo feio! Não foi cuidado pela Tia Ruth”, relembra a sobrinha Elen.

Era esta a sua forma de dedicação incondicional aos entes queridos, estava presente em todas as reuniões familiares. Houve uma época em que a família comemorava o Natal na sua casa, foram festas inesquecíveis.

Fazia seus trabalhos manuais com muita perfeição: tricô, crochê, pintura...

Inteligente e de personalidade forte, chegou aos 100 anos lúcida, independente e autônoma. A família organizou uma festa surpresa para ela para comemorar seu centenário. Nos últimos meses de sua vida, foi morar em um asilo. Ela não gostava, reclamava muito por estar lá, mas infelizmente, era preciso.

Quando perguntavam a sua idade, não gostava de falar, mas sempre dizia: "Vou viver até 120 anos, não estou no lugar de ninguém. Quem quiser que vá na minha frente". Infelizmente, não deu tempo. “Sua vida continua em cada um de nós. Jamais iremos esquecê-la. Relembrar sua vida faz pensar que 100 anos não são nada. Que passam rápido quando se faz tanto e quando alguém se faz tão importante na vida dos seus. Com certeza, poderia ter vivido mais. Hoje, são só saudades e a eterna gratidão da irmã e dos sobrinhos”, finaliza Elen.

Ruth nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 102 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha e afilhada de Ruth, Elen Pita Faria. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2020.