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Salvatore Lucchini

1935 - 2020

Italiano de nascimento, carioca de coração, esse pescador nato era um verdadeiro encantador de pássaros.

O Pescador de Ilusões
e/ou
O Encantador de Pássaros

Na infância, o apartamento de Nilópolis, na Baixada Fluminense, era uma fonte de surpresas. Cheio de recantos, encantos, odores e sabores. Uma das lembranças mais vívidas era o cheiro da Pastilha Valda que carregava no bolso. Tinha parado de fumar. Polido, bonitão, perfumado, elegantemente vestido e bem penteado, não raro sacava a latinha brilhante do bolso para oferecer uma das doçuras que o afastavam do cigarro.

Gostava de dirigir. Guiou caminhões, foi dono de empresa de ônibus, ganhou o país. Lembro bem da criação de coelhos. Mas o que mais ecoa na mente era o som dos passarinhos. Acarinhava os bichos, que correspondiam, abaixando a cabeça. Especialmente o Trinca-Ferro. A voz mansa era característica marcante do sujeito tímido, doce e pacato.

Teve dois filhos, Giulio e Eleonora, com a primeira esposa, Neuza. Avô de Giuliana e de Giulio Salvatore, bisavô de Pedro, também "adotou" um sobrinho-neto, Marcelinho, com quem conviveu intensamente em seus últimos anos de vida.

Com a segunda esposa, Maria, mudou-se para Copacabana, já mais velho. Foi nas areias de Copacabana, aliás, que desfilou seu charme durante anos, portando varinha de pescar e molinete. A pescaria era uma grande paixão. De tanta dedicação, virou personagem de um livro de fotografias sobre o Rio, que sacava toda vez que alguém o visitava no apartamento da Rua Duvivier, sentado na poltrona abaixo do pôster da seleção italiana de futebol campeã de 1982 pregado orgulhosamente na parede.

Amante de macarrão - costumava dizer que“macarrão sem queijo é como amor sem beijo”- , adorava saborear um belo copo de vinho tinto durante as refeições, como todo bom calabrês. "Per cent'anni!", brindava. Era capaz de passar horas ouvindo (e se emocionando) com antigas canções italianas.

Socorrido na noite de sábado, 16 de maio, internado no domingo, 17, Salvatore Lucchini, 85, perdeu a batalha para o coronavírus na madrugada de terça, 19. Ao dar a notícia para seu filho, Giulio, pelo telefone, horas depois, ouvi o som dos pássaros ao fundo.

Salvatore nasceu Paola, Cosenza (Itália) e faleceu Rio de Janeiro (RJ), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Mirella D'Elia, em 21 de maio de 2020.