1946 - 2020
Só havia uma coisa fazia seu coração bater mais forte que um jogo do Bahia: o amor pela família.
Era dia de jogo do Bahia. Pronto, seu Salvo Barradas já estava com a camisa do time, reunindo familiares e amigos em seu bar, pronto para a torcida, antes mesmo da bola começar a rolar. Era um torcedor apaixonado e sabia de cabeça os títulos, dias das partidas e os nomes dos jogadores do seu time do coração.
Quando começava o jogo, aí era atenção toda para o campo, para cada passe, na torcida fervorosa por um gol. E se ele saísse, se prepare: seu Salvo virava uma festa por dentro! Vibrava, celebrava e até tirava onda com aquele amigo que estava torcendo contra.
Só tinha uma coisa que fazia o coração dele bater mais forte que um jogo do Bahia: a família. A esposa Leia, seus cinco filhos e os netos eram sua paixão, por quem fazia o possível e o impossível se precisasse. E esse amor era completamente correspondido, afinal não é fácil ver netos tão amorosos com o avô como eram os de seu Salvo.
Se ele quase não saía do bar onde trabalhava, os netos faziam questão de ir até lá ver o avô e ajudar no trabalho, que tanto gostava. O carinho era tão grande, que os netos aparavam sua barba, levavam ao médico e faziam questão de sempre dizer o quanto o amavam. Parece que tudo que faziam com o avô, até uma ida à feira, era mais legal só por estar ao lado dele.
Uma das netas, Fabiana, fez questão de não esconder o que sentia pelo avô: “foi meu maior amor”, ela disse. “A forma de ele nos tratar, o amor que nos dava, é insubstituível. Éramos tudo na vida dele”. E seu Salvo também era tudo para os netos, em uma relação tão bonita, que enchia de alegria o coração de quem estava por perto.
Por isso, a preocupação foi grande quando ele começou a apresentar os sintomas da Covid-19. Trataram logo de levá-lo ao hospital e chegando lá, por via das dúvidas, ele foi isolado e ficou longe da família, do bar e do Bahia pela primeira vez. Uma semana depois, receberam o resultado positivo. Mais alguns dias e seu Salvo voltou a cuidar dos netos, mas dessa vez... de maneira diferente.
Salvo nasceu em Jacobina (BA) e faleceu em Candeias (BA), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Salvo, Fabiana. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sarah Fernandes, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de julho de 2020.