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Sandro Eduardo Nascimento da Silva

1974 - 2020

Alegria, caráter e intensidade o definiam. Mas a generosidade e a atenção, o tornavam mais especial ainda.

Sandro e Fernanda casaram-se muito jovens e logo engravidaram. Ele estava desempregado, mas assim mesmo assumiu toda responsabilidade, como um pai de família responsável que sempre foi.

Ele era uma pessoa especial, que mesmo tão jovem, passando por tantas dificuldades e responsabilidades, sempre foi à luta para que não faltasse nada a sua pequena e linda família.

Como já não havia começado fácil, seu filho ainda nasceu prematuro, de cinco meses. Ficou dois meses no hospital e, nesse tempo, teve mais algumas complicações. Mas Sandro ia todos os dias, com todo seu amor, visitar Dudu na incubadora. "Na mesma época, meu tio estava com o pai internado e doou sangue. Em seguida, Dudu precisou de sangue e ele também fez questão de ser seu doador. Só posso admirar essa pessoa que sempre foi um ser humano tão bom", diz Daiana.

No peito, tinha seu santo de devoção tatuado, para nunca mesmo deixar de lhe acompanhar: São Jorge!

Um homem de muita fé, que enfim, levou Dudu para casa. Era difícil para ambos, jovens e "marinheiros de primeira viagem", cuidar, principalmente de um prematuro. Mas Sandro foi um pai exemplar. Acordava de madrugada, fazia mamadeiras, trocava fraldas, dava remédios... Participava de tudo junto com Fernanda.

Tornou-se representante comercial, trabalhou até apresentar os sintomas do vírus. Ofereceu-se para ajudar na fábrica da empresa em que trabalhava, na produção de álcool em gel. Era tão querido, que todos os amigos da fábrica organizaram ajudas para sua esposa e filho.

"Tio Sandro adorava rock e era torcedor do Fluminense. Gostava muito de uma cervejinha, sem abusos. Mas, às vezes, dava uma vontade no meio da semana e Fernanda reclamava. Mas ele logo se defendia: 'A vida tem que ser vivida'”, conta Daiana.

Dudu foi crescendo e Sandro continuou sendo um pai amoroso, dedicado e companheiro. Quando pequeno, sempre o levou à escola. Dudu já quase adulto e lá estava o paizão: de motorista, levando e buscando no shopping, na casa da namorada, em festas... e ainda levava os amigos do Dudu para suas casas!

Também era muito atencioso com os sogros. Tratavam como se fossem seus próprios pais: idas ao médico, reparos de casa. Sempre com carinho e, no final, ainda os fazia rir, dizendo: “Vou colocar vocês em um asilo”.

Sandro realmente fazia a diferença. Era atento a tudo e a todos. Até mesmo com os gatinhos, abandonados nas ruas, ele se preocupava. Comprava ração para alimentá-los. Gostava dos animais... até seu cachorro agora sofre com sua ausência e toda noite, dorme na sua cadeira de balanço, que ficou vazia.

Estava fazendo faculdade de Marketing, porque queria crescer e dar uma situação melhor para a família. Seu objetivo na vida era fazer do filho um homem de caráter e não media esforços para isso. Repetia quando podia para Dudu: “Seja amigo e tenha muitos amigos”.

Fernanda e Dudu ainda não conseguem acreditar que seja real esse vazio e essa saudade imensurável que estão sentindo. Só pensam no desejo de tomar aquele café da manhã, todos juntos, aos domingos. Daiana diz entender a dor, pois Sandro foi internado praticamente junto com seu pai, Cláudio José da Silva — irmão mais velho de Sandro. "Foram dias difíceis para toda a família: tio Sandro não resistiu à luta e três dias após meu pai, Cláudio, também partiu. Mas sei que eles estão recebendo todo nosso carinho em um lugar lindo, não é um adeus é só um até logo", fala com emoção Daiana.

Com o isolamento tudo se tornou mais difícil, triste e solitário. Para Dona Júlia mais cruel... seus dois filhos partiram ao mesmo tempo. Mas eles tinham uma coisa em comum: a preocupação e o carinho com a mãe. Sempre que possível, almoçavam com ela. Toda reunião de família, como no próprio aniversário da mãe, eles sempre estavam presentes e faziam questão de registrar os momentos com fotos. No último Dia das Mães, ambos aparecem ao lado da mãe. Sinal de que sempre, onde quer que estejam, estarão ao lado de Dona Júlia!

Para ler a homenagem ao irmão de Sandro, procure por Claudio José da Silva, neste Memorial.

Sandro nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Nova Iguaçu (RJ), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Sandro, Daiana Padilha da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2020.