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Santa Meira Lima de Souza

1951 - 2020

Restaurava não apenas bonecas e brinquedos, mas suas próprias dores, transformando-as em amor e gentileza.

Uma mulher incrível que, com sua integridade, fez jus ao nome que a mãe lhe deu.

Mas Santa não gostava desse nome e acabou ficando conhecida por seu sobrenome: Meira. Conta Priscila que, desde pequena, entendia “Mera” e assim virou Tia Mera. “Só quando adulta soube, de verdade, qual o nome da minha tia.”

Quando criança, viu o pai saindo de casa e perguntou onde ele iria. Ele respondeu: “comprar uma boneca pra você”. E nunca mais voltou.

Sempre gostou de bonecas e, quando cresceu passou a restaurar bonecas e brinquedos velhos para doá-los. “Minha tia era muito generosa. Até minha cachorrinha, Keity Helen, recebeu uma cama, cobertas e uma pelúcia restauradas por ela. Sua casa estava sempre cheia. Seu carinho e amabilidade eram tão expressivos que eu chegava a ter ciúmes quando ia visitá-la”, conta Priscila.

Meira teve dois filhos: Izabel e Malaquias. Ficou entre a vida e a morte algumas vezes, por complicações cirúrgicas, mas sempre lutou bravamente pela vida. Por volta de 2018, perdeu seu filho mais velho para uma doença incurável. Ela não escondia que, com suas palavras: “preferia ver o filho no Céu a vê-lo sofrendo na Terra”.

Com tanto sofrimento, a sobrinha teve medo que ela perdesse o amor pela vida. Mas Meira resistia à tristeza e seguia vendo beleza nas pessoas, nas plantas e nos animais. E toda a vida continuou sendo amável e carinhosa. As crianças e adolescentes da família são testemunhas, pois eram muito mimadas por ela.

Já estava aposentada e não deixava seus prazeres de lado: bordar, restaurar, cuidar das plantas, tomar sol e cantarolar.

“Tia Mera tinha uma risada contagiante e não tinha quem não reparasse. Ela foi uma mulher que amou todos ao seu redor e sempre será lembrada pela luta por si e pelos filhos. Perdi um grande amor”, despede-se, com muita saudade, Priscila.

Santa nasceu em Taiobeiras (MG) e faleceu em Barueri (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Santa, Priscila de Meira Oliveira. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.