Sebastiana Siqueira das Neves

1945 - 2020

Não deixava de tomar sol nem quando recebia visita em casa. "Vamos lá para o quintal esquentar no sol", chamava.

Vó Tiana adotou como tarefa principal na vida cuidar da família, formada inicialmente pelos dez filhos. Quando o marido José Lúcio partiu deixando muitas saudades, aguentou firme, incansavelmente se preocupando e ajudando a todos, às vezes até tirando do que seria para si mesma.

Batalhadora, saiu da roça para tentar uma vida melhor em Belo Horizonte. Enfrentou dificuldades, chegou a conhecer a fome, mas lutou e venceu na vida. Conseguiu até construir uma casa enorme que comportava os dez filhos. Nos últimos tempos, alimentava o sonho de comprar uma casa menor, num lugar mais tranquilo, porque considerava não haver mais necessidade de morar numa casa tão grande sozinha.

Seu maior prazer estava em cozinhar e ver a casa cheia de filhos, noras, genros, netos e bisnetos, ocasião em que se utilizava de temperos especiais que só ela dominava, entremeados com alegria e bom papo.

Amava fazer frango com quiabo e angu, com jeitinho de roça que ninguém sabia fazer igual. Aliás, escolher o melhor de seus quitutes era difícil, mas certamente o bolo de cenoura, os bolinhos de chuva, os doces de mamão e batata-doce faziam parte de um infinito de coisas boas.

Gostava também de tomar sol todos os dias. Quando recebia alguém, sem querer perdê-lo, costumava convidar a visita: "Vamos lá para o quintal esquentar no sol..."

Simples, alegre e sábia, sempre tinha os melhores conselhos. Não foi alfabetizada e às vezes se atrapalhava com palavras da modernidade, provocando risos quando dizia, por exemplo, que o filho havia alugado um micro-ondas para transportar pessoas até a igreja, quando na verdade queria dizer micro-ônibus...

Por todas as lembranças e histórias, pela casa cheia de alegria e muitas risadas, é que Sebastiana continua vivendo em cada batida do coração de seus familiares.