Sobre o Inumeráveis

Sebastião Araujo Oliveira

1970 - 2020

Sebastião tinha um grande chamado em sua vida: amar. E amou — das formas mais lindas desde que conheceu a esposa.

Sebastião nasceu em Parintins, Amazonas, filho de Raimundo e Domingas. Ele era o xodó de seu pai e muito cedo começou a ajudá-lo e a aprender muitas coisas, dentre elas, dirigir.

Raimunda, sua esposa, conta em detalhes a história que viveu com Sebastião. Quando se conheceram, em 1989, ele tinha 19 anos e ela 27, vinda de um casamento anterior com quatro filhas: Adriana, Patrícia, Greyce e Kelly.

“Na época, me deu nome de Jhonny e eu acreditei. Até que, mais tarde, descobri que seu nome verdadeiro era Sebastião. Quando nos conhecemos eu estava separada do meu marido e nos tornamos grandes amigos. Até que num belo dia ele chega pra mim e diz: 'Estou amando você, quero viver com você e te ajudar a criar tuas filhas' e eu levei um susto”.

Ela se indagava como poderia um jovem viver com uma mulher madura, com quatro filhas para criar. Ao falar de suas preocupações para ele, teve como resposta: “Pra mim tuas filhas não são problema, eu vou criá-las como se fossem minhas”. Ela relutou, mas aceitou, e foram morar juntos, começando uma vida do zero, conforme ela conta: “Nem casa tínhamos, morávamos de aluguel. Não foi fácil, eu e ele tínhamos que trabalhar para criar nossos filhos”.

E ela continua: “Em 1993, nasceu nossa filha Jéssica; em 1995 nasce nosso segundo filho, Alexandre. Nós éramos uma família de oito pessoas e, em 2004, depois de quinze anos amasiados, nós nos casamos, selando nossa união diante de Deus e dos homens”.

Raimunda relata que, apesar de já ter sido casada anteriormente, ele foi o primeiro e único amor de sua vida e ressalta suas qualidades: “Ele era muito paciente, amoroso, humilde. Cumpriu o que me prometeu e criou minhas filhas como se fosse o pai biológico”.

Com os filhos já criados e cada um já responsável por si, resolveram sair da casa de Manaus e ir para uma comunidade em Bela Vista/Manacapuru, onde ele conseguiu um emprego para fazer o que mais gostava: trabalhar dirigindo máquinas pesadas.

Quando chegaram a essa comunidade, foram atrás de uma igreja para congregar e, segundo Raimunda, Deus os direcionou a uma igreja presbiteriana, onde conheceram o Pastor Jailson que os acolheu com muito amor e carinho. Começaram a frequentá-la e a participar com os irmãos.

Sebastião começou a fazer missões com o pastor João Wilson. Em abril de 2018 mudaram para a comunidade de Novo Céu para tomarem conta de uma obra. Ali ele necessitou de muita ajuda dos irmãos, porque tinha vários problemas de saúde, embora isso nunca o tenha impedido de falar do Evangelho de Cristo.

Daí para a frente, a família começou a sofrer os impactos da Covid-19. Em maio de 2020 perdeu o pai, Raimundo; dias depois a esposa também caiu doente e ele, que adoeceu no mês seguinte, “foi recolhido aos braços do pai”.

“Apesar de ser mais novo do que eu, me ensinou muitas coisas e agradeço a Deus pelos trinta e um anos que Deus me permitiu viver ao lado dele. Eu o chamava de 'meu velho' ele me chamava de Nenê. No dicionário dele não tinha a palavra 'não'. Sempre estava disposto ajudar, como fez comigo, me ajudando criar quatro filhas minhas. Aliás, ele sempre dizia 'nossos filhos'”.

Ele se foi, mas deixou seu legado de homem íntegro, humilde, prestativo, amoroso e que gostava de ajudar o próximo.

Sebastião nasceu em Parintins (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Sebastião, Raimunda Martins Oliveira. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 7 de fevereiro de 2023.