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Sebastião Soares dos Santos Filho

1959 - 2020

Seu lugar no mundo era o sítio, o canto que amava. Acompanhado da família e amigos queridos, ele se realizava.

O Agreste Sergipano foi morada das maiores paixões de Sebastião: a família e o sítio, o Rancho Dominó. Em alusão às partidas de dominó que aconteciam com frequência em sua propriedade, assim ficou conhecido o sítio que ele chamava de “meu resort”. As terras de Povoado Segredo eram para Sebastião como um "pedaço do céu", região que o proporcionou muitas alegrias e passou a ser seu lugar de descanso pela eternidade.

Todos os anos, no mês de junho, o Rancho era palco do forró do funga-funga, sua festa preferida, que reunia gente de todo canto. O clima de sossego que invadia o seu paraíso, como também costumava se referir ao sítio, rapidamente mudava com a presença de Sebastião, que espalhava a energia de sua natureza extrovertida e alto astral. O sorriso largo era o destaque de seu semblante, a marca de quem encarava cada novo dia com alegria e otimismo.

Perdeu sua perna esquerda em um acidente na juventude, mas disposto a não deixar que o incidente o abatesse, criou até um bordão: "Acordei com o pé direito! Mas também, não tenho o esquerdo", e soltava uma bela gargalhada.

Babá, Companheiro Soares ou simplesmente Sebastião - assim era conhecido o carismático empresário de Aquidabã. Cada apelido revelava o grau de afinidade que tinham com ele: "Babá" era com seus familiares, já que surgiu do jeito em que seu irmão pronunciava seu nome; atendia por "Companheiro Soares" pelos amigos que fez durantes os 30 anos de sobriedade, graças ao apoio da comunidade dos Alcoólicos Anônimos; e quem o chamava pelo primeiro nome, Sebastião, com certeza o conhecia do comércio.

Nas obras da igreja, nunca ficou “desempregado”. Foi do Encontro de Casais com Cristo (ECC), da Pastoral Familiar e do Terço dos Homens. Com muita alegria, amava estar a serviço de Deus.

Conhecido pela sua generosidade e senso apurado de humanidade, "Babá" reside na memória e no coração de muitos. Mas, para a família, sua paixão era mais ardente, tanto que fazia questão de externar todo amor que sentia. E não bastava dizer entre os seus, era preciso que toda a cidade soubesse que ele havia acordado e abraçado a mulher da vida dele, Rivanda, seu grande amor por quase quatro décadas.

O espaço que conseguiu na rádio comunitária para anunciar os serviços de sua clínica foi, por muitas vezes, uma oportunidade para Sebastião fazer declarações como essas. Quem sintonizava a rádio às terças-feiras na hora do programa “Agenda Comunitária”, inevitavelmente passava a conhecer seu neto, Joaquim, e se encantava com a figura de um avô apaixonado e dedicado.

Dos oito netos que teve o prazer de conviver - Taciane, Maria, Rebeca, Jonas, Samuel, João Pedro, João Paulo e Joaquim -, foi a este último que ele pôde dedicar todo tempo e cuidado desde o nascimento, assumindo o papel do pai que faltou ao neto. Extremamente amoroso e orgulhoso, falava da emoção que sentiu quando Joaquim ainda estava para chegar e, ao nascer, se orgulhava de dizer o quanto eram parecidos.

Também foi pai de seis: Tatiane, Thiago, Sidione, Luciana, Arnaldo e Isabelly. A separação física o manteve afetivamente distante de alguns deles, mas aqueles que com ele conviveram puderam atestar o pai acolhedor e amigo que foi.

Positivo e confiante, ao passar por qualquer dificuldade, dizia: “Isso é fichinha pra gente, já está resolvido!” “Era muito querido por todos que o cercavam, sempre cordial e disposto a oferecer ajuda. Adorava aconselhar familiares e amigos que passavam por problemas, sempre com uma palavra de conforto e superação”, recorda a filha Luciana.

Uma vida dedicada às boas obras que eram frutos de sua fé; além de seu maior legado que foi o de plantar alegria por onde andasse. “É tão bom sorrir e fazer o povo feliz”, dizia Sebastião.

Sebastião nasceu em Muribeca (SE) e faleceu em Aracaju (SE), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Sebastião, Luciana Oliveira Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 9 de julho de 2021.