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Sérgio Dias Teixeira

1939 - 2020

Sempre positivo, só esperava o melhor. Deixa valores, saudade e a lembrança gostosa no ritual do cafezinho.

Um homem sempre positivo e alegre, que na juventude gostava de tocar seu violino e curtir uma de suas paixões: a dança de salão.

Foi nesses passos dançantes que conheceu a companheira Antonieta, com a qual casou e encontrou paixões ainda maiores: os filhos Sérgio, Maristela e Alessandra. E mais dois netos: Larissa e Gabriel.

Em sua vida profissional, começou como office-boy na Madeirit e chegou a cargo de gerência. Com dois filhos já nascidos, cursou faculdade de Ciências Contábeis. Foi além, montando sua própria agência de empregos, mas após planos de confisco do governo na década de 90, acabou quebrando e parou de trabalhar. Desenhava muito bem e também fez Escola Panamericana de Arte, mas sempre teve um sonho: ganhar na loteria dos seis números.

"Papai tinha a loteria como um desejo, uma esperança. Seu livro de cabeceira era "A Lei da Atração ─ O Segredo Colocado em Prática". E com seu jeito confiante de ser, costumava direcionar seus pensamentos para suas aspirações. Por isso, acho que não deu tempo, mas acabaria conseguindo", diz Maristela.

Seu Sérgio era uma pessoa íntegra, amiga e não gostava de reclamar. Já ajudar as pessoas ele não só gostava, como o fazia da sua forma: discretamente, sem propagandas. A filha diz que eles tinham muita afinidade e proximidade e o descreve como um ótimo pai. "Ele era bonito interna e externamente. Ensinou-nos a retidão e a usar nosso próprio esforço para atingir os objetivos. Sempre nos motivou e transmitiu muito amor."

Católico e otimista, não deixava de acreditar que, em breve, tudo iria melhorar, desejando a todos o bem.

Morava sozinho, gostava muito de andar e tinha prazer em sua independência, comprando suas coisas por perto. Estava sempre bem-arrumado e usava suspensórios. Quando ia mais longe passear com a filha, ficava abismado de ver tantos arranha-céus e carros diferentes.

"Meus pais eram separados há mais de trinta anos, mas eram muito amigos. Tínhamos o hábito de ir almoçar todos os domingos, geralmente no Shopping onde ele gostava, e não podia faltar seu roteiro indispensável: sair do restaurante e sentar em uma cafeteria para tomar um cafezinho logo após a refeição. Eu fazia questão de estar perto e participar da vida dele, fosse em festas, nesse hábitos rotineiros prazerosos, ou mesmo ajudando quando precisava de algo."

Em janeiro, indo à farmácia, Seu Sérgio caiu e foi obrigado a ficar dois meses sem colocar o pé no chão. Até então nunca tinha saído de sua casa, mas, por conveniência, foi passar esse período em uma clínica de repouso. Em seguida, teve uma infecção e ficou alguns dias internado, voltando em seguida para a clínica. Chegou então a pandemia e ninguém mais pôde visitá-lo por segurança. No entanto, segundo Maristela, o perigo estava mais perto do que imaginavam. Dos 26 internos, 11 vieram a falecer.

Ele era o caçula de três irmãos. Ele e Antônio Carlos sofreram demais quando a irmã, Maria Aparecida, faleceu subitamente em 2019, nos Estados Unidos. Os irmãos não tiveram como se despedir e isso os abalou muito. Mas dessa vez, Antônio Carlos está desolado por sua perda dupla e com uma enorme sensação de vazio, em tão pouco tempo.

Defeitos? Claro, todos têm. E a filha conta que o de seu pai era esquecer de si para ajudar os filhos, por vezes se virando do avesso; ou seja, em sua análise, um "defeito bom". Era um homem sério e conversava sobre tudo. Aprendeu computação e, inclusive, a mexer em celular já com idade avançada, por ser a pessoa esforçada que Maristela tanto admirava.

Gostava de músicas orquestradas, no estilo de Ray Conniff, Frank Sinatra e Burt Bacharach. A filha, orgulhosa, diz que herdou essa sensibilidade musical do pai. E, com a mesma ternura, conta que, autorizada pelo médico, foi visitá-lo no hospital e conversou por cerca de meia hora com o amado pai.

"Acredito que temos uma missão e que a dele havia chegado ao fim, ele podia ir em paz, eu continuaria cuidando de tudo como sempre. Acalmei seu coração. Era o mínimo, para o melhor pai que Deus poderia ter me presenteado. No dia seguinte, fui informada de sua partida. Que saudades, pai! Mas você segue vivendo em mim e um dia iremos nos encontrar. Com certeza, ainda o levarei na memória nos cafezinhos de domingo", são as palavras lindas que a filha dedica de despedida a esse tão querido pai.

Sérgio nasceu em Ribeirão Preto (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Sérgio, Maristela Dias Teixeira. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de dezembro de 2020.