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Shigueru Nagao Junior

1968 - 2021

Um mestre da engenharia, admirado por seu orientador que suspeita ter aprendido mais do que ensinado.

Orgulhosamente politécnico, brasileiro e patriota. Era assim que se portava o profissional premiado internacionalmente por seu mestrado e o excelente amigo, que poderia ser Optimus Prime, mas se chamava Shigueru.

Sua graduação na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo se iniciou em 1989, mas foi interrompida no último ano para trabalhar e ajudar a família. Por suas competências, continuou a dedicar-se ao trabalho, atuando como técnico no Brasil e no exterior e em empresas da área de automação industrial e telefonia celular. Tornou-se pai e, apenas em 2009, teve a oportunidade de terminar sua graduação em engenharia em outra universidade.

Encantado pelas oportunidades profissionais do setor de energia elétrica e com ambições para lecionar, retornou para a EPUSP, agora como aluno de mestrado. Quando Eduardo Lorenzetti foi perguntado sobre referências para estudar tópicos de Sistema de Potência, jamais imaginou que estaria conhecendo um grande amigo com o qual desfrutaria horas de conversas sobre eletrônica digital, analógica, programação e cultura pop e "nerd".

Com maturidade e experiências de uma vida profissional intensa, não foi difícil seus estudos e pesquisas deslancharem. Em alguns meses, já estava trabalhando na área de sensores a fibra óptica, conseguindo participar de forma determinante nos projetos de desenvolvimento e inovação do Departamento de Energia e Automação. Em consultorias para empresas da área aeroespacial criava hardware, software, algoritmos, experimentos e produtos.

Ao final do mestrado, quando começou a dar aulas em outras universidades, não havia tarefa impossível, especialmente quando o assunto era multiplicar as capacidades e habilidades de seus inúmeros pupilos e aprendizes, projetando seu modo de trabalho, de estudo e sua índole. Gostava tanto de se comunicar que aceitou o papel de representação discente dos alunos de pós-graduação.

Ajudava alunos de graduação, pós-graduação, professores e engenheiros seniores de empresas, demonstrando coragem, ousadia e responsabilidade em auxiliar quem precisasse para ir adiante. Com projetos multidisciplinares, gostava de inovar e integrar tecnologia em suas aulas e cursos, e fazia tudo isso com uma organização invejável e inspiradora que esteve inteiramente presente em seu mestrado: um primor de organização, com uma dissertação elaborada nos últimos detalhes. Um capricho que identificava claramente tudo aquilo que Shigueru fazia.

Muito bondoso e simpático, também sabia ser sincero e crítico quando se deparava com o descaso, com a preguiça ou com o desprezo à ciência e às boas práticas da engenharia. Nesse papel, lembrava muito o personagem dos filmes "Karate Kid", o Sr. Miyagi, com lições surpreendentes. No entanto, essa não era a principal personalidade atribuída a ele: a imagem do Mestre Yoda era seu avatar nos aplicativos de conversas.

“Preciso admitir que, no papel orientado/orientador, eu não sabia quem aprendia mais com quem", afirma o professor Eduardo.

Sua rede de amizades, dentro e fora da escola, refletia justamente seu jeito solidário e atencioso com o próximo. Mas não apenas os grandes amigos Raul, Gleison, Juliano eram inspirados por suas qualidades: quantas vezes Shigueru era visto falando com seu filho Alan por telefone, computador, qualquer que fosse a distância ou a hora do dia. Uma cópia ainda mais refinada de seus valores e de sua coragem.

Além do filho, Shigueru tinha ao seu lado mãe, pai, avó e, mais recentemente, uma nova companheira, Kalliny, que o auxiliava e motivava a seguir em frente, sem cansar, sem desistir. Há pouco tempo, teve duas patentes depositadas e preparava seu doutorado inovador para a área de fotônica, que teria impacto relevante para o setor de energia e de sistemas inerciais brasileiro.

Seu apurado senso de justiça e austeridade jamais serão esquecidos.

“Alan, veja a trajetória de seu pai e acredite naquilo que ele via em você. Confie e transforme seus sonhos em realidade", pede Eduardo.

Shigueru nasceu em Batatais (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo professor orientador de Shigueru, Eduardo Lorenzetti Pellini. Este tributo foi apurado por , editado por Luíza Victorino, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 28 de maio de 2021.