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Sinval Miranda Silva

1945 - 2021

Não trocava seu café com leite, acompanhado de um pãozinho, por nenhum outro prato, por melhor que fosse.

Ainda criança, Sinval deixou sua terra natal, a "princesinha do sertão" Caetité, e partiu para o interior de São Paulo com toda a família. Aos 18, revolveu tentar a vida na capital, onde nunca lhe faltou trabalho nem vontade de trabalhar. Instalado na terra da garoa, exerceu diversas atividades profissionais e conheceu Alcione, casou-se com ela e desse amor nasceram Marcos, Fernando e Juliana, aos quais deu sempre o exemplo de honestidade e amor à família.

Para os familiares, era chamado carinhosamente de "Dé". Um homem ativo que sempre acordou cedinho para varrer todo o quintal e cuidar das plantas que ele tanto gostava. Eram muitas orquídeas, coqueirinhos... E ele ainda plantava mudas em garrafas pet cortadas e dava para as pessoas. Não jogava óleo de cozinha fora, fazia sabão e cortava em quadrados perfeitos.

Como todo idoso, Sinval tinha uma rotina: fazia a barba todos os dias, mantinha o cabelo sempre impecável, tomava café com leite e pães pela manhã e era acostumado a não almoçar (um hábito adquirido por conta de um trabalho que ele teve). Toda tarde repetia seu café com leite e pães, nunca tomava café puro, precisava ser com leite, sempre.

A paixão de Sinval era uma Kombi 1994 que ele limpava várias vezes por semana. A família chegou a cogitar a remota hipótese de venderem o automóvel, mas ele se negava terminantemente a considerar a ideia. Com a Kombi, ele fazia carretos, levava os vizinhos para as consultas médicas... Ah, como essa perua ajudou os vizinhos! Sinval não negava qualquer pedido e estava sempre pronto para ajudar, mesmo que muitas vezes não esperasse ou recebesse nada em troca pelo serviço prestado.

O ano de 2015 foi marcado por uma das maiores realizações para ele: a chegada da primeira netinha ─ Giovanna ─ deixou Dé extremamente feliz e encantado com a pequena. Como essa neta gostava de fazer bagunça com o vovô! Ele e a esposa pegavam a neta na escola diariamente às 17h. Sinval era muito pontual e ficava bravo quando a companheira se atrasava para sair de casa. A netinha, por sua vez, vinha feliz na "perua do vô", e aprontava bastante, mas sabia que se fizesse bagunça com as cortinas da Kombi, o avô iria ralhar com ela rapidinho!

Dé partiu deixando suas plantas, sua perua Kombi, uma infinidade de recordações memoráveis e uma linda família que irá honrar cada ensinamento e muita, muita saudade em todos!

Sinval nasceu em Caetité (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Sinval, Juliana Alegro Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 15 de maio de 2021.