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Sueli Ramos da Silva de Oliveira

1944 - 2020

Passista orgulhosa de sua Portela, abrilhantou as avenidas e em samba-enredo cantou sua alegria de viver.

Sueli fez jus ao significado do nome e foi luz nesse mundo. Seu samba-no-pé era um dos tantos orgulhos que fez parte de sua história. Ela amava contar dessa fase linda que viveu quando foi passista da Portela, escola que amou até o fim. Orgulho também sentia de ser funcionária pública federal, cargo que se dedicou muito a conquistar.

Mas, sem dúvidas, o que marcou em profundidade a jornada de Sueli foi a oportunidade de conhecer o que é o amor de mãe, e com ela a experiência foi em dose dupla. Erica e Suellen são as sementes que Sueli e seu companheiro de vida Jorginho do pandeiro, deixaram no mundo para que eternizassem suas histórias. Infelizmente Jorge Soares de Oliveira, o Jorginho do pandeiro, deixou Sueli mais cedo do que esperavam nessa desafiadora missão de educar seres humanos.

Mas guerreira e dedicada como sempre foi, continuou sua luta e viveu a alegria de formar as duas filhas como nutricionista e fisioterapeuta. E para chegarem lá, Sueli não dava moleza. A regra era clara: boas notas na escola e bom comportamento na casa de outras pessoas.

Especialmente quando iam em alguma festa, o recado era “não pedir nada, esperar que nos oferecessem e, mesmo assim, recusar educadamente. Não falar alto e não correr”, conta Erica ao lembrar do sistema da mãe. Justo Sueli que falava alto a ponto de render a ela várias situações embaraçosas na rua, já que sempre achava que não tinha dado para escutar.

Se alegrou também com a outra geração que veio depois, seus três netos: Michael, Gabriel e Jorge Lucca. Tentando resumir a imensidão que foi a avó para seus netos, a filha Erica se emociona ao dizer que “não havia nada que não fizesse por eles, não media esforços para agradá-los”.

A tão amada “Sussuca” fez jus àquela história de mãe rígida e, em contrapartida, avó babona pelos netos. Na defesa dos netos era tão empenhada que se assemelhava até a uma leoa que protege seus filhotes com ‘garras e dentes’.

Era tão parceira dos seus pequenos que eles já sabiam o que fazer caso a vovó dormisse no meio da novela que acompanhava fielmente: viam o resto e depois contavam a ela o que se passou no capítulo, nunca deixando a amante das novelas desatualizada.
Entrou também na conta em suas paixões do audiovisual, os filmes do cineasta brasileiro Amácio Mazzaropi. Foi o genro quem fez o agrado de compartilhar todos os filmes com ela e, assim como no caso das novelas, via uns e dormia em outros.

No tempo livre, adorava ficar na esquina atualizando todas as novidades junto com as vizinhas. Se entristeceu muito quando viu o tempo passar levando suas companheiras e companheiros de conversa.

Dona de um coração enorme, nunca se recusava em fazer tudo pela família e pelos amigos. Sempre pedia para a filha trazer da feira de domingo duas garrafas de água de coco, era o primeiro item da lista. Quando a água chegava, “Sussuca” sempre fazia questão de dividir com os netos. Aliás a preocupação com a alimentação deles foi o que ocupou a mente dela em seus últimos dias presente na vida dos netos. “Fizeram jantar para meus netos?” foi o que disse Sueli em suas últimas palavras.

Os taxistas do centro de Nilópolis arrumavam briga para levar a ‘tia Sueli’, como carinhosamente a chamavam, para casa. Hoje já não se escuta mais o som dessa disputa no ponto de táxi para garantir uma corrida que levaria no banco do passageiro o carisma da ‘tia Sueli’.

Teve muito medo de contrair o vírus e deixar seus netos, mas em algum momento ele a alcançou e após 12 dias de internação, não conseguiu sair vitoriosa como em outras batalhas que travou ao longo da vida.

Mas de forma alguma serão acontecimentos tristes, como esse, que serão preservados na memória de todos que a amavam. Na verdade, é assim que preferem eternizá-la: “Minha, nossa Sussuca vai ser sempre lembrada por seu sorriso, suas histórias da Portela e por toda a sua família, amigos e vizinhos”, garante a filha Erica.

Sueli nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Sueli, Erica da Silva Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Juliana Holzhausen e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2020.