1958 - 2021
Amava festas e ornamentava a casa de acordo com a data a ser comemorada.
Radiante e luminosa, era chamada de Sol. Foi mãe, avó, tia e madrinha. Extremamente vaidosa e noveleira, amava festas. Entretanto, não qualquer festa, mas as celebrações que ela mesmo organizava em casa, para a família. "Nenhum aniversário podia passar em branco, nem que tivesse apenas um 'bolinho'", explica Rafaela, a Rafa, afilhada da manauense. "Soraia era minha tia em segundo grau. Morei com ela dos meus 11 aos 17 anos. Ela foi uma mãe para mim".
Irmã caçula de Terezinha e de Maria de Lourdes, Soraia não pôde conviver com elas durante a juventude, pois as irmãs precisaram sair de casa em busca de trabalho. Na vida adulta, o trio se reencontrou e não se soltou mais. Casou-se com José Sombra e com ele teve os filhos Winfried, Wernner Meycon e Suellem Werdalhe. "Todos se reuniam nos encontros familiares, nas datas comemorativas, unidos e companheiros uns dos outros", ressalta Rafa.
Uma das principais características de Soraia era a sua vaidade. "Não precisava de motivo para se arrumar. Às vezes se produzia apenas para que eu a clicasse, pois trabalhei como fotógrafa durante um tempo e éramos vizinhas. Eu a fazia de cobaia", brinca a afilhada, que sempre se manteve próxima da madrinha. "Quando a gente se desentendia, não juntávamos remorso. Minutos depois começávamos a rir uma da outra".
Sol fazia jus ao apelido que ganhou: resplandecia. "Gostava de brilho, de brincos grandes e de roupas com estampas de onça, estilo 'animal print'. Apaixonada por festas, sua casa sempre estava ornamentada de acordo com a data comemorativa. Na Copa do Mundo, enfeitava o espaço com bandeirinhas, assim como nas festas juninas. Na Páscoa, havia coelhinhos pela casa e, no Carnaval, colocava 'glitter' em tudo o que tinha direito. Ela amava os desfiles das Escolas de Samba, não perdia um", conta Rafa.
Avó divertida e companheira, Sol costumava vestir a neta de 5 anos com roupas natalinas para registrar o evento num álbum de fotos. "No último Natal que passamos juntas, não foi diferente. Fez questão de vestir a Clara Valentina — também chamada de Vavá ou Tina — com figurino temático, para guardar a recordação. Só não sabíamos que seria a última vez", lamenta a afilhada.
Nas horas livres, Sol, Rafa e Vavá viviam juntas. Faziam lanches da tarde e brincadeiras de criança. A dona de casa Soraia não gostava de cozinhar, mas isso não a impediu de se matricular num curso de culinária. Fez também curso de decoração com balões, pois queria saber montar flores para enfeitar festas de aniversário. Sol também atacava de artesã com as peças que produzia no crochê. "Ela vivia com sede de aprender, não tinha preguiça para nada!", garante Rafa.
Quando não estava inventando moda, Sol curtia a neta, assistia às novelas, cuidava de suas plantinhas. As preferidas eram as samambaias, os cactos e as onze-horas. "Tinha de todas as cores. A madrinha era tão louca pelas florzinhas", recorda Rafa, "que se estivesse no carro, pedia ao motorista da vez que parasse no lugar em que ela avistasse mais uma para a sua coleção".
Extrovertida, Sol imitava as dançarinas dos programas de auditório da TV e ria a valer com os vídeos mais bobos. "Ela era aquela pessoa que via as cenas mais toscas do mundo e morria de rir. Para ela, faziam sentido e, no fim, eu reconheci que ela tinha razão". Outra distração da madrinha de Rafa era conferir as novelas mexicanas transmitidas pelo SBT, "aquelas que a gente conhece todas as falas de cor, sabe?"
De personalidade marcante e sorriso largo e solto, Soraia jamais será esquecida. "Minha madrinha fazia toda a diferença nos almoços de domingo. Depois que se foi, nada mais teve o mesmo brilho! Hoje, os encontros familiares são raros, nada se compara aos dela! Tinha o poder de nos fazer dançar, rir e cantar. Seu jeito espontâneo de ser era pura alegria! Eternas saudades de seus familiares e amigos, Sol!"
Suraia nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela afilhada de Suraia, Rafaela Lira da Cruz. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Luciana Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 6 de maio de 2022.