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Sylvia de Mattos

1930 - 2020

Tia afetuosa. Emanava amor até nas longas conversas telefônicas.

As vindas de tia Sylvia para São Paulo, são as primeiras memórias. Ela cozinhava e dormia na casa em que eu morava com a minha avó. Eram dias de festa em família.

Sempre sorridente, ela não gostava de fotos.

Meu avô dizia que, quando jovem, ela era um escândalo - e tinha pernas lindas! Dizia também que ela andava com eles, meus avós, pra cima e pra baixo. Até na lua de mel deles, ela foi! Sempre achei isso muito engraçado.

Tia Sylvia estava sempre na moda. Pra começar, morava no Leblon. Usava brincos estilosos e roupas coloridas que combinavam com seus cabelos enrolados por bobes. Tinha um cheiro só dela. Eu não achava gostoso, mas também achava, porque era cheiro de tia Sylvia.

Entrar na casa dela era como viajar no tempo. A mobília parecia retrô, mas aqueles pés-palito eram mesmo originais.

Para falar com ela ao telefone era preciso estar com bastante tempo. Gostava de conversar e dava trabalho para desligar. Sempre muito atenciosa, preocupava-se com todos. As despedidas eram demoradas, porque eram bênçãos. Fique com Deus, queridinha! Que Deus te proteja! Um beijo pra fulano e beltrano! Que estejam sempre protegidos... Continuava por muito tempo...

Às vezes, ficava zangada, especialmente com tio Ary. Mas todo mundo sabia que ele merecia.

Não pôde ter filhos, uma grande tristeza! Mas teve muitos sobrinhos, afilhados, sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos, como eu. Três sobrinhos-tataranetos! Nós a amamos muito!

A festa virtual do Caio, em dia 1º de maio. Foi a última vez. Que gracinha! Ela disse, quando viu Gabriel de perto na tela.

Um dia antes de ser internada, a tomografia... Eu já sabia que tia Sylvia estava indo para o céu.

Dela, vou guardar o legado de amor e afeto que sempre teve pela nossa família e pelas crianças.

"Obrigada por essa enorme carga de amor, que nos orienta e guia. Não se preocupe, tia, ficamos com Deus", agradece a sobrinha Clarissa.

Sylvia nasceu Rio de Janeiro (RJ) e faleceu Rio de Janeiro (RJ), aos 90 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Noêmia Maués, a partir do testemunho enviado por sobrinha Clarissa Willets, em 23 de maio de 2020.