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Talita Crechi da Silva

1995 - 2021

No aconchego de sua casa caprichosamente arrumada, dedilhava seu violão para o encanto de sua amada Ana.

Com os olhos verdes mais encantadores do mundo e um sorriso de menina que nunca abandonava seu rosto; Talita era brincalhona e intensa. Uma mulher apaixonada pela Fisioterapia, por seu violão e pela vida.

Nascida e criada na capital paulista, Talita teve seis irmãos e uma infância humilde: foram todos criados praticamente só pela mãe; infelizmente, o pai era ausente. Contudo, foi uma menina calma, mas que, como toda criança, aprontava bastante. Identificava-se como bissexual e antes de se casar tinha se relacionado apenas com uma mulher. A grande maioria de sua família, acolheu e a tratava com muito respeito sua orientação sexual.

Em setembro de 2019, em um happy hour, Talita conheceu seu amor: Ana Paula. Sem timidez, já chegou puxando assunto e pedindo o telefone daquela que seria sua companheira de vida. Ana foi pega de surpresa, não sabia como lidar com a situação, porém a conversa foi fluindo e a paixão tomando conta. "Talita era extremamente carinhosa e cuidadosa", conta com afeto a namorada. Cinco meses depois, as duas estavam morando juntas e construindo uma relação muito saudável, cheia de amor e cumplicidade.

Desde que se encontraram, faziam tudo juntas: iam ao parque jogar futebol, dividiam a faxina de casa, iam ao cabeleireiro e à academia; eram parceiras no vídeo game, nas compras do mercado e até no violão - a paixão de Talita. Ela estudou o instrumento por sete anos e o dedilhava quase todos os dias. Tímida, não curtia muito tocar em público, porém, em casa, dedicava parte de seu tempo ao instrumento quando chegava do trabalho ou aos finais de semana. Seus gostos musicais eram diversificados, mas amava mesmo era o sertanejo. Já Ana Paula, que não sabia tocar, ficava ao lado dela só escutando e apreciando. Era sua tiete mais fervorosa.

Além do violão, de amar Coca-Cola e de assistir séries, gostava de se cuidar; muito vaidosa, fazia as unhas, hidratação no cabelo e na pele. Também zelava pela casa, sempre inventando algo pra fazer. Ter um lar para chamar de seu foi, para Talita, um sonho realizado. A conquista de um cantinho - sem conflitos e dificuldades financeiras - junto de seu amor, lhe trouxe paz e um brilho no olhar, pois era mais um passo que davam juntas.

Os amigos que tinha, eram cuidados como um tesouro. Ajudando quando fosse preciso, Talita era solidária e se doava; tirava dela para dar ao próximo. Com os parentes, e com Ana principalmente, não media esforços; detestava brigas e conflitos, era de paz, sempre muito amorosa com todos.

Viverá para sempre nas memórias felizes que partilhou com a família, os sobrinhos - com os quais amava brincar -, e no coração apaixonado de sua eterna namorada.

Talita nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 25 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela namorada de Talita, Ana Paula de Thomaz. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Rosa Osana, revisado por Luana da Silva e moderado por Ana Macarini em 2 de dezembro de 2021.