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Tânia Maria Canuto Souza de Andrade

1952 - 2020

Para ela a melhor época do ano era o Carnaval: viajava, divertia-se e aproveitava a convivência com a família.

Filha de Joana Viana e de Geraldo de Souza, ela foi criada na cidade de Serra Caiada, no interior do Rio Grande do Norte, junto dos seis irmãos: Genaldo, Geobaldo, Jorge, Telma, João Maria e Geraldinho. Passou toda a vida adulta na capital e litoral do mesmo estado — Natal.

Conheceu o futuro esposo, Hélio Lopes, na rua onde ambos moravam, no bairro do Alecrim. De início, só conseguia autorização dos pais para saírem juntos se fosse na presença da Socorro, tia do Hélio, que veio a se tornar uma grande amiga de toda a vida.

Com o tempo, eles se casaram e tiveram os filhos, Hélio Júnior e Juliana Caroline — o maior orgulho de suas vidas, embora a labuta nem sempre deixasse espaço para muita convivência e carinho, como gostariam. Foi uma fase em que, com tantos afazeres e preocupações — e devido à sua seriedade, por vezes até braveza — seus irmãos, de brincadeira, às vezes a chamavam de Dona Onça.

Mas quando vieram os netos Miguel, Rebeca e, depois, Helena — já aposentada e com mais disponibilidade —, esbaldava-se em dar toda atenção aos pequenos, participando das brincadeiras e sendo desde a "cúmplice" com as guloseimas, até a companheira fiel de todas as noites para ver televisão, já que moravam todos próximos.

Tânia Maria sempre trabalhou muito, desde nova, e foi exemplar servidora pública com atuação em postos de saúde, auxiliando em diversas especialidades. Aposentou-se quando estava no setor de farmácia.

Era chamada por algumas pessoas da vizinhança de Mãe da Caridade, pois era sempre prestativa, de todas as formas e com todos que precisassem, fossem vizinhos ou desconhecidos. Dedicava-se por iniciativa própria, seja auxiliando a todos para que usufruíssem melhor o serviço público de saúde, seja com recursos financeiros — o que muitas das vezes sua própria família só vinha a saber depois.

O passeio preferido era a praia, principalmente a de Búzios, do município potiguar de Nísia Floresta, onde passaram muitos Carnavais, hospedados na casa da tia Socorro. Era nessa hora que a versão caseira migrava para a versão mais animada: gostava inclusive de se fantasiar e de curtir melhor a convivência com todos da família. A melhor época do ano para Tânia Maria era essa! Até porque o esposo, Hélio — com quem foi casada por mais de quarenta anos —, ainda trabalhava em três turnos e empregos, e por isso não eram de sair com muita frequência.

Tânia Maria era uma pessoa muito boa, que amava os pássaros e o jardim que criou em sua área. Foi também uma avó coruja, que deixou um vazio enorme no coração dos netos e de toda a família. Não tinha manias e era reservada. Acompanhava todas as novelas da TV e sempre se encantava com o desfile de Miss Universo. Católica, abstinha-se de carne na Sexta-Feira Santa e aproveitava para fazer um bacalhau que era uma maravilha! E a prosa com a filha Juliana, na escada que dividia as casas, era sagrada.

"Minha mãe era um amor de pessoa, apesar de ser brava como minha vó; tal como eu acabei sendo... e minha filha também", diz Juliana, achando graça. Ela conclui: "Meus pais sempre se esforçaram para nos dar uma boa educação e para nunca faltar comida na mesa. Minha mãe tinha o jeito e as peculiaridades dela, mas era maravilhosa pra todos nós! A melhor mãe do mundo. Ela era tudo pra mim".

Tânia nasceu em Nova Cruz (RN) e faleceu em Natal (RN), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Tânia, Juliana Caroline Souza de Andrade. Este texto foi apurado e escrito por jornalista , revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2022.