1934 - 2020
Era uma senhorinha doce que espalhava chocolates pela casa e beijava a imagem de Nossa Senhora antes de dormir.
Teresinha era doçura, elegância, beleza e inteligência. Trazia a alegria de viver em cada gesto, mas também sentia as dores do mundo. Ficava feliz em ajudar as pessoas da igreja e, logo após ficar viúva, foi voluntária em uma instituição especializada em tratamento de câncer.
Muito culta, lia bastante, principalmente os clássicos da literatura inglesa, e amava cinema. Sempre que ia a São Paulo, corria até sua livraria preferida para ver os DVDs. Quando abriu uma unidade em Ribeiro Preto, onde morava, passou a garimpar filmes por lá.
Por anos procurou pela obra "As Chuvas de Ranchipur". Quando finalmente a encontrou, exibia o DVD como um prêmio, igual a uma criança. A filha Ercilene chegou a comprar o mesmo filme e presenteá-la, mas àquela altura Teresinha já havia adquirido o presente para si mesma.
Elegante e bonita por toda a vida, chamava a atenção nos bailes que frequentava na época de solteira em sua cidade natal. O evento social era estilo anos 50, embalado por músicas de Glenn Miller, principalmente.
Quem fisgou seu coração, porém, foi o marido. Os dois gostavam de dizer que se conheceram no altar, pois se viram pela primeira vez quando foram padrinhos de um casamento. A relação era de muito respeito, os filhos nunca os viram brigar.
Foram casados por cerca de quarenta anos e dessa união vieram cinco filhos. O esposo dizia que Teresinha era uma mãe muito protetora. "Ela parecia uma galinha-choca com os pintinhos, meu pai contava", diz a filha.
Lotinha, como também era chamada, foi professora de inglês. Apesar de gostar da profissão, queria mesmo era ser médica, mas o pai dizia que não era uma boa profissão para mulher.
Aos netos Daniel, Lucas, João Pedro, Guilherme, Gabriel, Leandro, Tiago e Francisco, a vovó Tetê reservava ainda mais doçura. Alguns cresceram na casa de Teresinha. Antes da pandemia, todo domingo os filhos almoçavam com ela, programa sagrado para a família.
Adorava chocolate e espalhava vários pela casa. Também se orgulhava dos bordados lindos, com o avesso perfeito. Realizou os sonhos de viajar pela Europa, ter uma família com filhos e netos saudáveis, casar-se... Dizia ainda que poder ajudar o próximo foi um desejo que realizou.
Nos últimos anos, conviveu com a doença de Parkinson. Apesar da mobilidade reduzida, a mente continuava afiada. Manteve-se lúcida até o fim.
Mulher de fé, Teresinha beijava o retrato de Nossa Senhora antes de ir dormir. Deixa lembranças doces e uma imensa saudade para todos que tiveram a honra de conhecê-la.
Teresinha nasceu em Viradouro (SP) e faleceu em Ribeirão Preto (SP), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Teresinha, Ercilene Vita. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Paola Mariz e moderado por Lígia Franzin em 6 de abril de 2021.