1949 - 2020
Cheia de histórias pra contar, era fonte de sorrisos, de inspiração e de coragem.
Tereza saiu de Sergipe com 5 anos, foi pra São Paulo acompanhando o pai e a mãe, em busca de vida melhor.
Em São Paulo casou-se, teve seis filhos, onze netos, sete bisnetos, quatro noras e dois genros, e tornou-se costureira. Aliás, desde novinha, ainda criança, fazia roupinhas para as espigas de milho que chamava de bonecas.
Ela tinha muita história de sua infância, e adorava sentar-se e contar pros filhos. Contava que, ainda lá no interior, seu pai trabalhava na roça com seus irmãos mais velhos, na plantação da família. Como ela era a mais nova, ficava em casa com sua mãe e era a responsável por levar as marmitas, quando escutasse seu pai a chamar. Era a alegria dela, porque ali não se tinha nada além da companhia de sua mãe, que não saia da beira fogão a lenha. Ficava à espreita esperando que o pai a chamasse bem alto “Tereza!”.
Um dia ali estava ela, quando ouviu o grito do seu pai e logo correu para falar com sua mãe, que estranhou o horário mas prontamente preparou as marmitas. E lá se foi Tereza. O pai quando a viu chegar, bravo disse: “Não chamei, não! E isso é hora de almoçar? São 10 horas da manhã!”. A menina voltou pra casa desolada e sem entender nada, mas logo descobriu que o vizinho da roça havia comprado uma égua, a quem pusera o nome de Beleza. Era este homem que havia gritado mais cedo chamando por sua égua: “Beleza! Oh Beleza! Vem, Beleza!”. Ela entendeu "Tereza! Oh, Tereza!? Vem, Tereza!".
Sempre que contava essa história sorria, com um sorriso largo, como se revivesse aqueles dias difíceis, porém felizes, da sua infância com sua família. Com toda certeza, suas grandes paixões foram seus seis filhos. Dentre eles, os gêmeos Lúcio e Lúcia e os gêmeos Gilmar e Gilberto. Sim, ela teve gêmeos por duas vezes. Era a atração por onde ia... o Antônio Carlos carinhosamente apelidado por ela de Kaka por causa de uma novela da Globo”, e sua caçula Ângela com quem viveu boa parte da vida e que foi sua grande companheira ate o final de seus dias".
Tereza sempre foi uma mulher trabalhadora e amável com todos.
Com 51 anos Tereza teve um derrame, assustando toda a família, que achou que seria o fim. Mas ela foi forte e sobreviveu, vivendo tudo que não tinha vivido antes. Conheceu a praia, viajou para muitos lugares: conheceu o Rio de Janeiro, Curitiba, as Cataratas de Foz do Iguaçu, o Paraguai, a Argentina. Reencontrou um irmão que há mais de 40 anos não via, foi a muitos shoppings, foi ao cinema 3D. Comeu muitas comidas gostosas e diferentes. Mas o que ela gostava mesmo era o macarrão de panela de pressão que sua filha caçula preparava com tanto amor e carinho, era o que ela sempre pedia para comer.
Tereza também adorava tomar café com leite.
Um fato pitoresco da família, e que virou tradição de final de ano: enquanto montavam a árvore de Natal, todos cantavam uma música que Tereza ensinou. Essa música era de um comercial de um café chamado Seleto que passava na TV na época dela.
Tereza era muito divertida e feliz, apesar de ter sofrido muito na vida, conseguia tirar muitas risadas de todos... A filha lembra uma vez em que Tereza perdeu a dentadura e, depois de muito procurar, se deu conta de que estava na boca.
Muitos e muitos momentos felizes estão marcados para sempre nos corações. Muitas coisas que ela adoraria ter feito... Sonhava conhecer o Sílvio Santos, ir a um show de Chitãozinho e Xororó. Antes de ir para o hospital, pediu pra comer o macarrão de panela de pressão.
"Um buraco, um vazio irreparável. O desejo de todos é um só: que nada tivesse acontecido com essa mulher que nunca virou as costas nem pra quem lhe fez mal", conclui Ângela.
Tereza nasceu em Sergipe e faleceu em São Paulo (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Tereza, Ângela Mateini. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sandra Maia Farias Vasconcelos, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 30 de maio de 2020.