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Terezinha de Jesus Oliveira Moraes

1947 - 2021

Festeira, apreciava o Carnaval, organizar os aniversários de pessoas queridas e enfeitar a casa para o Natal.

Terezinha era o motivo de muitos apelidos carinhosos: era Dona Tete para alguns, Mainha, Vovó Teté e Teresa para outros.

Morena e com seus cabelos negros semelhantes aos de uma indígena, encantou Roberto, um advogado de profissão, nascido no Recife, mas que morava no Rio de Janeiro desde os 5 anos de idade. Com ele teve as filhas Roberta Dagmar, Teresa Helena e Isabela. Juntos, construíram uma história de muito amor e carinho pelos filhos. Infelizmente, porém, em 1991, na véspera de Natal, ele faleceu em decorrência de câncer de pulmão e ela se viu viúva com 40 e poucos anos e três crianças para cuidar.

Como se não bastasse, perdeu a pensão do marido devido ao período conturbado do governo Collor. Teresinha teve que se reinventar e lutar por sua vida e pela vida das filhas. Foram anos difíceis, mas ela nunca perdeu o sorriso e alegria; era uma mulher admirável, guerreira e lutadora.

Trabalhava no Estado, como professora de Educação Física. Habilidosa em trabalhos manuais, adorava fazer as roupas do pastoril da escola e amava as festas. Organizar as festas das filhas, dos amigos e vizinhos era com ela mesma. Adorava enfeitar o prédio Clemont, em Olinda. Gostava muito do Carnaval e de um docinho. Ela fazia o seu Carnaval como ninguém.

Em termos de religião, não se prendia a rótulos; então, era extremamente católica e praticava também o espiritismo. Era devota de Nossa Senhora de Fátima, ajudava em várias obras de caridade e também a família e amigos. Viveu para servir.

Aos 63 anos precisou fazer uma cirurgia cardíaca séria e conseguiu recuperar-se plenamente. Contava, que durante a cirurgia, vira a imagem de Jesus misericordioso emanando raios de luz para ela. Depois disso, tornou-se devota, estudou essa história e presenteou outras trinta e três pessoas com quadros dessa imagem.

Passado o susto, continuou sua vida com muita força. Viu as filhas se formarem em Ciências Contábeis, Letras e História, sendo para ela motivo de muita alegria ver Teresa e Isabela laureadas!

Também viu sua Isabela se casar em 2013 - e foi ela quem a levou ao altar -, divertindo-se muito na ocasião. Em 23 de Janeiro de 2018 tornou-se avó da sua primeira neta, Clarinha, sua bonequinha, como gostava de chamá-la. E, ainda no mesmo ano, nasceu Matheus, seu segundo neto, seu anjinho. Foi uma avó doce e memorável. Fazia tudo pelos netos e, o mais importante, trasbordava amor para eles e para todos que passavam por sua vida. Curtiu os seus netinhos como ninguém.

Tudo corria muito bem até que, no final de 2020, ela escondia algo. Eram dores e incômodos, e não falava para ninguém. No Natal, as filhas redecoraram sua árvore com laços e ursinhos, e a deixaram bem linda, como ela gostava nessa data, e ela mostrou aquele sorrisão de alegria.

O ano terminou, ela continuava mal de saúde, com problemas no fígado, mas nunca se entregava ao medo e dizia que se fosse a hora dela ia acontecer na vontade de Deus. Até que, em fevereiro de 2021, Terezinha foi internada e, no hospital, contraiu o vírus da Covid-19.

Isabela, uma de suas filhas, diz que a fé de Terezinha não esmoreceu nem nesse período e que ainda a viu agradecendo por sua vida e falando que tinha visto uma luz pela janela. Foram dias de luta para essa guerreira, mas chegou sua hora e Isabela conta com resignação: “Era certo que íamos passar por mais essa, que teríamos história para contar, mas os nossos planos não são nossos e sim de Deus. E assim ela se foi... também num ano difícil, igual ao nosso pai. Sua missão chegou ao fim, mas o seu legado ainda continua com os que viveram com ela. E sua história de luta, vai ser a história de luta para os que aqui vivem”.

Num último gesto de bravura ela demonstrou sua luz deixando uma carta, encontrada após sua morte, onde dizia: “Deixo estas linhas que são necessárias a vocês. Sei que estamos passando momentos difíceis, mas nunca desistam de lutar e viver, pois o Nosso Pai nos ama muito. Caso eu faça a passagem, não se desesperem, pois chegou o meu momento, estarei saudosa e olhando por vocês. ... Nunca deixaremos de existir nesta vida, só fazemos uma passagem, pois o elo é eterno... não é uma despedida é um breve adeus. Sejam fortes e continuem vossas vidas”.

E Isabela conclui, em nome da família: “Te amamos. Continuaremos, mãe...”

Terezinha nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Terezinha, Isabela de Oliveira Moraes Dias Pereira. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 3 de março de 2023.