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Terezinha Gomes Ligero

1946 - 2020

Preparava quitutes diferentes todos os dias.

O trabalho na roça durante a juventude no interior paulista deu a Terezinha garra e força, inclusive para logo arrumar emprego quando se mudou para a capital. Era faxineira na antiga Bolsa de Valores de São Paulo e só deixou o serviço registrado quando começaram a vir os filhos – Rosângela, Roseli, Ronaldo, Ricardo e Renata –, que criou praticamente sozinha, já que o marido, caminhoneiro, passava longos períodos em viagens distantes fazendo transportes.

Ainda moça e solteira, gostava de frequentar os bailes no bairro paulistano da Vila Matilde, onde era a parceira de dança mais cortejada entre os rapazes; porém, foi Francisco quem conquistou seu coração em definitivo.

Sempre risonha, com ela “não tinha ‘tempo quente’; era otimista e buscava o lado positivo em tudo, era uma pessoa de luz”, define a neta Bruna, praticamente criada na casa dos avós, a quem visitava diariamente depois do trabalho, especialmente para provar as gostosuras que saíam fresquinhas do fogão de Terezinha. “Ela sempre me recebia com pão quente, café e o mais gostoso de todos os abraços". Para Bruna, a avó era o colo para as conversas e os desabafos.

O prazer pela culinária e a assiduidade na frente da telinha nos programas temáticos deram a Terezinha o apelido de “Palmirinha”. Anotava as receitas que via na televisão e lá ia para a cozinha testar o que aprendera de novo, fazendo questão que todos experimentassem seus pães, tortas e bolos, fosse nos lanches da noite ou nos tradicionais almoços de domingo. Até mesmo o marido, diabético, comia às escondidas seus preparos deliciosos. Nos aniversários — dos quais ela nunca se esquecia e ligava com a maior alegria para os cumprimentos — não faltava o bolo Prestígio, elaborado com carinho para o “Parabéns a Você” de cada membro da família.

Terezinha fez da gentileza sua marca, com todos à sua volta. Preocupava-se com os filhos, netos e bisnetos e com quem mais estivesse sob seus cuidados. Quando não estava ocupada com os afazeres diários da casa, dedicava-se à costura, ao crochê e às plantas, que cultivava com o maior gosto em seu quintal.

Fervorosa na religião cristã, propagava os seguintes pensamentos: ‘’conserva a paz’’ e “tudo tem um propósito”. Terezinha teve o seu, nutriu o amor pela família.

Leia também a história de Francisco Ligero Martin, seu companheiro de cinquenta anos de casamento.

Terezinha nasceu em Tapiratiba (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Terezinha, Bruna da Costa Ligero. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de setembro de 2021.