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Thaian Samir Assunção Espíndola

1984 - 2020

Só dava ele em todas as festas da família. Era o mais alegre e falante, além de ser o contador oficial de piadas.

Thaian começou a trabalhar aos 11 anos na autoescola da família. Primeiro ajudava na limpeza, depois fez o curso para instrutor teórico, tornando-se o profissional mais requisitado da escola.

O prestígio veio porque, além de gostarem de suas aulas, as pessoas se divertiam muito com ele, conforme o relato de Gracideth, sua mãe.

"Ele fazia brincadeira com todos, até com quem não conhecia; e sempre contava uma piada, muitas vezes repetida", recorda-se ela.

Embora estive atuando na parte administrativa do negócio, na ausência de algum instrutor teórico, Thaian assumia o posto, para a alegria geral dos alunos.

Já nas horas vagas, gostava mesmo era de estar em casa, com os filhos Vitória e Vitor, gêmeos de 16 anos; Joana, de 10 anos; e o caçula de nove, o Thaylo. Além de assistir à televisão e aos jogos do seu time.

Esse torcedor do flamengo amava muito os familiares e mantinha proximidade com todos: tios, primos e avó. Bondoso, feliz e falante, a animação das festas ficava por conta dele.

"Thaian tinha muitos amigos, era a alegria da família, sempre falava mais, não dava tempo pra ninguém, e ainda transformava muitos fatos em piadas", relembra a mãe, para quem o filho gostaria de ser lembrado como a pessoa que só levava alegria a todos que o cercavam.

Uma das recordações mais marcantes para Gracideth é a viagem que os dois fizeram com a irmã dela para o Rio de Janeiro.

"Ele perguntava aos motoristas de aplicativo se eles eram 'panema', que, aqui no Amapá, significa pessoa com azar. Daí, o motorista respondia que não era de Ipanema e falava o bairro que morava. Nós ríamos tanto", ela diz.

Gracideth relata que a família sofreu também a perda da tia de Thaian, por covid, e que ela própria passou dezesseis dias internada por causa da doença.

"Eu saí do hospital um dia após ele ser internado e pedi muito pra médica não dar alta pra mim", ela conta. Ainda assim, pôde cuidar do filho uma noite antes de ele ir para a UTI.

Foi de lá que ouviu, chorando, suas últimas palavras por telefone, antes de ser intubado: “Calma, mãe, calma, será só por cinco dias". Em seguida, Thaian declarou: "Te amo, mãe".

"Meu amigo, meu filho eterno, minha paixão, pensei que a dor de parto fosse a pior dor do mundo, mas entendo que a pior dor não é quando um filho nasce, mas sim, quando se perde um filho", finaliza Gracideth.

Thaian nasceu em Macapá (AP) e faleceu em Macapá (AP), aos 36 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela mãe de Thaian, Gracideth Espíndola. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Mariana Quartucci, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de novembro de 2020.