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Thereza Lúcia Prata de Almeida

1955 - 2020

A Dra. Thereza Lúcia escolheu a Medicina ainda na infância e era uma pessoa com palavras e sorrisos para todos.

Thereza decidiu ser médica aos 7 anos. Aos 18, foi classificada em primeiro lugar no vestibular e ingressou no curso de Medicina na Universidade Federal do Ceará. Sempre foi a melhor aluna do curso, dedicada em todos os momentos. Não havia tempo ou hora ruim, sempre havia uma possibilidade.

Amava brincar com seu neto de 7 anos. Pulavam corda juntos, montavam quebra-cabeça, ela lhe contava histórias sobre acontecimentos reais, de uma forma infantil e educadora.

Thereza viajou por vários países, participando de eventos da Medicina, gostava de estudar e conhecer o que havia de novo em sua área, a dermatologia. Quando retornava, comentava entusiasmadamente sobre a cultura destes lugares. Viajava também por lazer e turismo. "Foi maravilhosa e divertida a viagem que fizemos por quatro países europeus em 2013", conta a cunhada e amiga Zirlane.

A Thê, forma carinhosa pela qual era chamada, também cuidava de sua mãe, que em 2020 está com 104 anos. Ela falava que gostava de ouvir a mãe cantar e recitar poesias de sua própria autoria.

Dra. Thereza foi bondosa, simples, amiga, humana, atenciosa, competente e ética; qualidades raras de encontrar em muitos profissionais que se propõem a salvar vidas. Sempre recebia os pacientes com um sorriso e palavras confortadoras. Chegou a ser homenageada por um colega, que colocou seu nome em uma das salas de sua clínica.

Seus pacientes tinham doenças dermatológicas crônicas e diziam que ela era "a pessoa responsável pela minha permanência aqui na Terra, que me faz acreditar que nossos direitos vão muito além da sorte, e que, com um pouco de boa vontade, é possível fazer muita gente feliz”.

"Do blog de um paciente, escrito antes do seu falecimento e comentado por vários outros, Zirlane transcreve: 'Tudo faz para proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos seus pacientes'".

Quando Thereza soube que estava com uma doença chamada mielodisplasia, continuou a trabalhar e a viver normalmente, sem pânico. Planejou cuidadosamente dos trâmites do transplante de medula ao que seria necessário se submeter. Tinha, em sua única irmã, a doadora com 100% de compatibilidade. Tudo organizado, as duas irmãs foram para São Paulo no início de março. Transplante realizado com sucesso!

Ainda em março, sua filha foi lhe fazer companhia no hospital, já que ficaria por quase cem dias, devido ao protocolo do transplante. Medula já respondendo bem, filhota 24 horas com ela, mensagens de amigos iam sendo transcritas em um mural improvisado na parede do quarto do hospital, uma maravilha pela bênção de Deus.

Mas um dia as duas foram contaminadas, alguém do hospital trouxe a Covid-19 para dentro do quarto. Thereza foi para o isolamento e sua filha foi se abrigar em um apartamento que alugou próximo ao hospital. As duas ficaram quinze dias distantes e sem se falarem.

A seguir, entre melhoras e pioras, Thereza conversava com os médicos sobre as condutas a serem tomadas para que “ficasse boa” – como ela sempre finalizava estas conversas, segundo os relatos dos médicos.

"Hoje entendo que Thereza estava sendo preparada para entender e aceitar sua partida, pois Deus tinha um provimento maior para ela. Thereza foi ver a face de Deus em paz. Gratidão por ter compartilhado sua vida conosco! Foi um exemplo de amor e dedicação à vida", diz Zirlane.

Thereza nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela cunhada de Thereza, Zirlane Castelo Branco Coelho. Este tributo foi apurado por Michelly Lelis, editado por Raiane Cardoso, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de julho de 2020.