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Valdenir Lopes

1942 - 2021

Era chamado de Tio Nini até por quem não era sobrinho. Passava na rua assobiando e cumprimentando todo mundo.

Flamenguista apaixonado, assistir aos jogos do time rubro-negro com ele era uma diversão só: ele ria, gritava, ficava irritado, bebia, comemorava... Ah, e como comemorava cada vitória do "Mengão".

Nunca gostou muito de viajar, mas era só falar de roça que ele arrumava tudo e saía correndo pra lá. Apaixonado por animais, sempre teve criação, mesmo na cidade.

Não parava quieto um minuto. Era do tipo agitado, falante... Não gostava de ver ninguém calado também que logo já estava cutucando e fazendo a pessoa falar. E se divertia demais implicando com tudo e com todos.

Subia e descia escadas, morros, deixando qualquer jovem pra trás e se vangloriava muito da sua disposição. Andava ligeiro demais.

Era só chegar na casa dele que ele já tirava todas as comidas, colocava sobre a mesa e deixava ali, à disposição de todos. Não podia deixar ninguém sair de lá sem comer.

Sempre com plantações em casa, era comum vê-lo carregando uma ou outra fruta para distribuir com quem conversasse pela rua. "Quase nos matava do coração com as artes que aprontava, e depois vinha com um sorrisão enorme e falando que nos preocupávamos demais", relembra a neta Evelyn que cresceu jogando damas, comendo pão com mortadela e tomando grapette com ele na varanda de casa.

Foi um pai apaixonado pelos filhos e um avô orgulhoso. Isabela possui deliciosas lembranças do avô e guarda cada uma delas com muito afeto, relembra com delicadeza e doçura: "Sempre que o vovô ia na rua, ele não esquecia o meu pão de queijo. A gente brincava muito de pique-esconde e ele me chamava de 'baixinha'. O vovô adorava me dar frutas e doces".

Valdenir sempre se orgulhou de tudo que tinha e sempre contou, em forma de incentivo, que era tudo conquistado à base de trabalho honesto.

A esposa de Valdenir, Marilda Farias Lopes, assim como a filha, Marusa Camilla Farias Lopes, também foram vítimas da Covid-19. Ambas têm suas histórias contadas aqui no Memorial.

Valdenir nasceu em Nova Friburgo (RJ) e faleceu em Nova Friburgo (RJ), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas netas de Valdenir, Evelyn Lopes da Cunha e Isabela Lopes de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Lígia Franzin em 25 de junho de 2021.