1963 - 2021
Com ele não havia lugar para tédio ou mau humor. A irmã não se lembra de tê-lo visto triste na vida.
Era pura alegria. Aquele que não podia faltar nos eventos e reuniões de família. Sua presença era garantia de surpresa, descontração e riso, sempre. Assim era o Valdir, conta a irmã Claudia.
Ela se lembra com carinho das traquinagens que o irmão cometeu e cujas histórias, mesmo com o passar dos anos, tinham o poder de produzir gargalhadas, não importando quantas tivessem sido revividas e contadas pelo pai e pela mãe.
Brincalhão e arteiro, ele protagonizou as situações mais engraçadas da família: como da vez em que se trancou no banheiro sozinho e precisou da ajuda de bombeiros para socorrê-lo, ou quando fugiu do hospital pouco antes de fazer uma cirurgia; nas idas ao rancho, quando pegava sapo no rio e o soltava no meio do povo, causando toda sorte de confusão.
Quando a família chegava para as férias em Poços de Caldas, o porteiro do prédio dizia: “Esconde tudo que aquele menininho de óculos chegou!”. Era um furacão e, mesmo depois de adulto, sua presença marcante modificava qualquer lugar, pois já chegava alegrando tudo.
Claudia não se lembra de tê-lo visto triste, nem mesmo nos momentos mais difíceis, como a morte de seus pais: era ele quem tentava animar a todos, contando casos engraçadas e relembrando momentos felizes.
O Bola, como era conhecido, compartilhou a infância e sua vida com três irmãos: era o irmãozinho dos dois mais velhos, e o irmãozão da caçula.
Valdir era o xodó da mãe, que o mimava e protegia muito, quando criança, por causa do problema grave que ele tinha no coração, e para o qual precisou de cirurgia aos 8 anos de idade. E também por conta das “artes” que ele fazia e que o colocavam sempre em risco.
Já o pai, um italiano daqueles clássicos, mais reservado, não era muito de demonstrar afeto, mas os dois se davam muito bem e trabalharam juntos por muitos anos, tocando um bar.
Além do bar, Valdir teve uma empresa de caçamba, depois trabalhou com atendimento ao cliente. Foi na empresa de caçamba que ele conheceu sua esposa. Ele a chamava de Pi (Patrícia) e formavam um lindo casal: eram companheiros e muito amigos. Tinham em comum a paixão por cachorros e tiveram vários, antes do nascimento do filho Vinicius. Levavam os cães a todos os lugares onde iam, todos mesmo, desde que permitida a entrada de animais.
Valdir era um pai presente. Ele e o filho se divertiam muito jogando videogame e nadando: Valdir o acompanhou nas primeiras aulas de natação, quando o filho ainda era bebê. Quando o Vini ficou maiorzinho, gostava muito de ir à piscina com o pai e ao clube Regatas para olhar as lanchas.
Para Claudia, a partida do irmão deixou um vazio enorme na vida de todos que tiveram a sorte de conhecê-lo. Sentirão falta dele nos churrascos que tanto gostava de preparar ou nos momentos de tristeza em que aparecia como um bálsamo, trazendo leveza e calma, com seu jeito descontraído e uma piada a tiracolo, tentando alegrar e desanuviar o ambiente.
A risada de Valdir, Claudia agora escuta materializada na do pequeno Vinicius, que é tão alegre quanto o pai.
Valdir nasceu em Ribeirão Preto (SP) e faleceu em Ribeirão Preto (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã de Valdir, Claudia Regina Benedetti. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Rosa Osana, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.